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Os desafios para uma amamentação e alimentação infantil saudáveis em um município da Grande São Paulo

31 de outubro de 2019

 

 

O artigo “Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB): desafios para sua implantação em um município da Grande São Paulo” foi escrito com o propósito de descrever os desafios na promoção do Aleitamento Materno (AM) e da Alimentação Complementar Saudável (ACS) a partir da implementação da EAAB no âmbito da atenção básica. Em 2016, Mariana Santos Barreto, nutricionista e aluna do Programa de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde, e Silvia Regina Dias Medici Saldiva, nutricionista, doutora em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo e pesquisadora do Instituto de Saúde (IS) realizaram um trabalho para a implantação dessa estratégia no município de Itapevi.

 

A união da Rede Amamenta Brasil e da Estratégia Nacional de Promoção da Alimentação Complementar Saudável (Enpacs) resultou no surgimento da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, que tem o propósito de promover a melhoria das práticas de atenção à saúde de crianças menores de 2 anos de idade, utilizando-se de atividades participativas e de ferramentas para atualização dos profissionais de saúde em relação ao cuidado de crianças, no âmbito da Atenção Básica, de acordo com a sua realidade.

 

Mariana Barreto e Sílvia Saldiva são autoras do artigo sobre a implantação da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil em um município da Grande São Paulo, publicado na edição Volume 20 – nº1 do Boletim do Instituto de Saúde, de Julho de 2019. Mariana – que concluiu o Mestrado Profissional em Saúde coletiva do IS - concedeu a seguinte entrevista a respeito da Estratégia, sua importância, resultados e desafios:

 

Instituto de Saúde: Como o mestrado profissional contribuiu para essa estratégia?

Mariana Santos: Em 2015, eu decidi participar do Programa de Mestrado Profissional do IS pela grande oportunidade de unir a EAAB, da qual eu já era tutora, com o mestrado profissional para desenvolver esse projeto no município. O mestrado me permitiu desenvolver algo que eu acreditava como profissional de saúde, sendo necessário iniciar um processo do zero, com uso de metodologias e ferramentas apreendidas e adaptadas à realidade do município, e que demandou muitos esforços para a sua realização. Ele foi importante para que eu pudesse aliar a teoria à prática, aprender e aplicar o que aprendi, foi perfeito.

 

IS: Qual foi a situação encontrada na unidade escolhida para a intervenção?

MS: Toda equipe da unidade precisava padronizar as práticas de orientação e apoio à amamentação e à alimentação complementar saudável nas mães de crianças atendidas. Eles estavam fazendo isso de uma forma mais individual, sem consenso. Não era padronizado o preenchimento de dados importantes como informações sobre aleitamento materno e marcadores de consumo alimentar nas fichas referentes ao sistema de informação vigente, por exemplo.

 

IS: Como foi o primeiro encontro?

MS: Para a realização dessa oficina consegui autorização da Secretaria Municipal de Saúde para fechar totalmente a unidade e todos os agendamentos e atividades foram reorganizados nos outros dias da semana. Neste dia conseguimos realizar a oficina o mais próximo possível da metodologia proposta pelo Ministério da Saúde, houve um acordo de convivência, expliquei o que é a EAAB, a proposta, objetivos, fizemos uma dinâmica inicial, atividades para tratar das habilidades de comunicação, dramatização, etc. Os trabalhadores também fizeram, em grupos, a leitura dos 10 passos para a alimentação saudável de menores de 2 anos. Durante a leitura, os grupos procuraram as respostas para as dúvidas elencadas em atividades anteriores.

 

Outra atividade importante foi montar cardápios para crianças nas faixas de 6, 7, 8 meses e 1 ano como achassem correto para cada faixa etária. Eu já levei os alimentos pré-cozidos, pertencentes a todos os grupos alimentares (leguminosas, cereais, raízes e tubérculos, carnes e ovos, legumes e verduras e frutas).

 

 

IS: Como eles se saíram nessa atividade?

MS: Teve grupo que misturou os alimentos na montagem dos pratos, grupo que não considerou todos os grupos de alimentos importantes para o desenvolvimento da criança conforme a faixa etária.

 

IS: A implantação das ações aconteceu ainda nesse primeiro encontro?

MS: No total foram quatro encontros. A pactuação das ações aconteceu no segundo encontro. O terceiro encontro foi destinado aos funcionários técnicos e tratou-se de uma capacitação inicial sobre avaliação antropométrica e classificação do estado nutricional. O objetivo desta capacitação foi orientar sobre a relevância da padronização na avaliação das medidas antropométricas, conversar sobre a importância da atitude de vigilância nutricional e discutir casos em equipe. No quarto e último encontro, foram apresentados alguns vídeos e uma versão preliminar de protocolo para a padronização de alguns serviços focados nos processos de trabalho e práticas relacionados ao aleitamento materno e alimentação complementar saudável.

 

IS: Quais foram as mudanças ao final desses quatro encontros? Foram significativas?

MS: Para esse estudo eu utilizei uma unidade controle e uma intervenção. Efeitos positivos foram encontrados em Educação Permanente em Saúde no que concerne ao envolvimento (adesão) dos profissionais nas oficinas, na compreensão da importância do aconselhamento em Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável, e no preenchimento de dados no sistema de informação pactuado e vigente, quando comparado à UBS controle.

 

IS: Qual foi o maior desafio que você encontrou para realizar essas ações?

MS: Eu diria que a rotatividade de profissionais da unidade. Quando eu estava começando a estabelecer um vínculo com todos eles, aí acontecia alguma troca. Era difícil alimentar o sistema de gerenciamento da estratégia. Muita gente não está mais lá e eu mesma fui transferida da secretaria para uma unidade de saúde depois dessa experiência.

 

IS: Como você acha que esse problema pode ser resolvido?

MS: Eu acredito muito que devemos proporcionar um processo de reflexão entre os profissionais da saúde, gestores e população sobre as repercussões dos dados de mortalidade e morbidade que estamos vivenciando na sociedade, e ainda, das possíveis ações que podemos realizar com as atividades que desenvolvemos no dia a dia, mas que não nos damos conta da importância que isso possa trazer. É preciso apresentar propostas que visam a melhoria dos índices de aleitamento materno e de alimentação complementar saudável, que comprovadamente contribuem significativamente com a redução da mortalidade infantil, além de outros impactos importantes como diminuição por internações com diarreias, doenças respiratórias entre outras, pois estamos muito aquém do recomendado como satisfatório pela Organização Mundial da Saúde. Implantar e implementar a EAAB não é algo exclusivo do profissional nutricionista, é algo para todos os profissionais da saúde e gestores, de forma a mobilizar e incluir a sociedade, outros setores e segmentos nas questões da saúde.

 

 

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