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Grupo de pessoas com dor crônica: abordagem terapêutica e social - UBS Vila Marchi de São Bernardo do Campo

 

 

GRUPO PARA PESSOAS COM DOR CRÔNICA NUMA ABORDAGEM TERAPÊUTICA E SOCIAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA NA UBS VILA MARCHI NO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

 

Unidade Básica de Saúde Vila Marchi

DRS I - Grande São Paulo

 

 

Introdução

A dor é uma percepção subjetiva, desagradável e vital. A interpretação do estímulo nocivo protege o organismo através desse sinal de alarme denominado dor (BARS et al.,2004). No que se trata de classificação, podemos utilizar o contexto temporal como indicador, sendo a divisão feita em dor aguda e dor crônica. A dor crônica é aquela persistente ou recorrente. Em sua classificação, consideram-se crônicas aquelas em que o sintoma se mantém além do tempo fisiológico de cicatrização de determinada lesão, ou por permanecer por mais de três meses (IASP 1986; Gureje et al.,1998). Numa macro-visão, estima-se que, mundialmente, 80% das consultas médicas devam-se à presença da dor (Kerns et al., 2003) e a nível nacional demonstra que 75% dos pacientes que consultam serviços públicos de saúde relatam a presença de dor crônica (Holtz et al., 2008) O tratamento clássico da dor (aguda) consiste em repouso e uso de fármacos para o alívio do sintoma, para favorecer a cicatrização da lesão (Zeller et al., 2008) e a redução do processo inflamatório (Shang et al.,2003). Ao contrário do tratamento da dor aguda, os agentes químicos analgésicos não se demonstram eficazes contra a dor crônica (Turk et al., 2006). A baixa eficácia do uso contínuo de fármacos está inevitavelmente associada a efeitos secundários indesejáveis e à baixa adesão ao tratamento farmacológico. Aproximadamente, 47% dos pacientes com fibromialgia (síndrome de dor crônica difusa) não aderem à medicação prescrita, seja intencionalmente ou pela intensidade dos efeitos colaterais da medicação (Sewitch, 2004). Por isso, o tratamento da dor crônica deve caracterizar-se por programas multidimensionais agindo sobre características biopsicossociais (Turk et al.,2006; Flor et al.,2004). No plano biológico esses programas visam regular os mecanismos endógenos de controle da dor e a concentração de neurotransmissores (como serotonina, noradrenalina e dopamina). No plano psicológico reduzem ansiedade, depressão, angústia e incapacidades mentais geradas pela dor crônica. No plano social favorecem a autoestima, a participação social e a produtividade intelectual e física. Dentre as estratégias empregadas pelos programas multidisciplinares destinados à dor crônica, temos gestão do estresse, educação dos pacientes e das famílias, relaxamento e orientações práticas para as atividades de vida diária, sendo a atividade física a estratégia mais utilizada (Bennett et al., 1996; Barcellos et al., 2007). A prescrição de exercícios para o tratamento da dor crônica é defendida há mais de 20 anos pela literatura científica (McCain et al., 1988).

 

Objetivo da experiência

Este relato tem o objetivo de descrever como foi e está sendo constituído o grupo para alivio de dores crônicas na UBS Vila Marchi.  E com a realização do grupo proporcionar orientação permanente aos pacientes com dores crônicas de origem osteoarticular e/ou muscular sobre exercícios globais e atividades para alívio do quadro álgico.

 

Público alvo

Usuários com dor crônica da fila de espera dos serviços de ortopedia, reumatologia e da UBS

 

Equipe envolvida

Apoiadores de Rede, Atenção Especializada, equipe da Atenção Básica, Regulação, SMS, Apoiadores Externos ao município.

 

Recursos utilizados

Espaço da comunidade e academia da saúde na UBS.

 

Interface com outras áreas e/ou serviços

Interface com regulação, Atenção especializada, equipe de Atenção Básica e Gestores das Unidades de Saúde.

 

Breve histórico da experiência

 

Várias Oficinas para discussão e reestruturação da Política de Atenção Especializada com gestores da AB, Apoiadores de Redes, Gestores dos serviços, Apoiadores Externos aos Municípios e Assessores da SMS de SBC de Maio e Junho de 2015.

Há reunião de EP do apoio do apoio no município, por território. Alguns Facilitadores são externos e outros da SMS.

Estas oficinas tinham como objetivo a reestruturação da política de atenção especializada de SBC, mapear a rede, ir além das ações medicamentosas para responder a dor crônica e já havia oferta de Acupuntura no Centro de Especialidade Rudge Ramos para dor crônica, mas a oferta muito desproporcional à demanda.

Em Agosto/2015 ocorreu o mutirão da Ortopedia com exames de RX, acupunturista, Fisioterapeuta e Ortopedistas. Após o mutirão e reavaliação das Subespecialidades (Mão, Joelho, coluna, quadril). Ponderar e refletir com os Ortopedistas a fila produzida e a necessidade, reconhecimento dos casos cirúrgicos são poucos, cerca de 20% da fila e os 80% são de dor crônica agudizada ou não. O mutirão ocorreu aos finais de semana e à noite, e duração de cerca de 3 a 4 meses.  A espera para a especialidade de ortopedia era de 8 meses. Ponderamos se vale a pena cuidar assim e a resolutividade.

Início da ação na UBS: Outubro/2015.

 

Desenvolvimento da ação

A preparação para realização do grupo iniciou-se em outubro, visto a preocupação com as pessoas que aguardavam o chamado para consulta com Reumatologista. O primeiro passo foi a análise das guias de encaminhamentos. Visto um número considerável de encaminhamentos e realizamos um momento entre especialista em reumatologia (Policlinica Rudge Ramos) com os médicos de família da UBS. Este encontro proporcionou uma visão mais ampliada sobre os casos de reumatologia. O terceiro momento se deu com a convocação dos pacientes encaminhados para reumatologia para uma reavaliação com participação dos apoiadores e uma médica da UBS. Desta reavaliação, foram chamados os pacientes para participação no grupo. Formato do Grupo: Foi pensado um grupo rotativo, feito em ciclos de 10 semanas, terminado este tempo, uma nova turma se inicia. A cada semana é abordado um aspecto diferente na recuperação e promoção da saúde, alongamentos, exercícios para resistência, fortalecimento, sessões de acupuntura, além de interação social e abordagens multidisciplinares sobre a dor (interação medicamentosa, cuidados gerais, posicionamentos para minimização da dor, etc). Foi estabelecido um número de no máximo 20 participantes por ciclo.

 

Resultados alcançados

As ações pré-grupo fizeram estreitar os laços entre as equipes, pudemos analisar como estavam sendo realizados os encaminhamentos e assim qualificá-los, diminuindo a fila de espera, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida para os participantes do grupo durante este momento de espera.

Os grupos de dor vêm para minimizar o sofrimento das pessoas com dor crônica, sendo realizadas diversas atividades físicas e de interação social.  O matriciamento mostrou-se uma iniciativa necessária para realização do grupo onde foram solucionadas diversas duvidas e uma aproximação com a rede.

 

Há fragilidades, vulnerabilidades ou problemas específicos da experiência?

Sim.

É muito difícil desconstruir esta cultura com profissionais que já estão próximo da aposentadoria, mas é preciso fazer enfrentamentos e descobrir como fazer as parcerias e oferecer alternativas para a cooperação e o cuidado sem ser consultas e exames.

Regulação interna dos serviços: reconhecer o Oficial Administrativo das unidades de saúde como ator fundamental no processo e ocupa o espaço da regulação nas unidades de saúde.  Não utilizar o ACS só como correio, este é parte da tomada das decisões.  A informação é a base da conversa sobre regulação e deve ser para toda a equipe. Inserir o conceito e a prática da microrregulação no cotidiano dos serviços.

Avaliar e qualificar a fila de espera de forma a torná-las vivas e de maneira permanente.

Manter a conversa entre os serviços e regulação para continuidade do cuidado.

 

Qual é o diferencial da experiência?  Por que é uma experiência inovadora?

Hoje o desafio é adequar a regulação para os casos eletivos. O como fazer é burocrático, não só em SBC, mas em todo o Brasil. Repensar o complexo regulatório é um desafio em todos os lugares (municípios e Estado).

Dificuldades dos profissionais em integrar e se corresponsabilizar pelo cuidado.

Dar alternativas para os casos de dor crônica e responder com ofertas além das consultas, exames e medicamentos. Identificar as Práticas Alternativas e complementares por território. Ofertar formação para pessoas interessadas.

 

A experiência tem ou pode ter algum desdobramento?

Sim. Já desdobrou para mais 3 UBS em 2016.

 

Contato

departamento.atencaobasica@gmail.com / maria.fernanda@saobernardo.sp.gov.br

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