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Quadro clínico da raiva humana

É composto por várias fases: a) prodrômica, b) neurológica aguda, c) coma e d) morte.

A raiva ocorre em 32 a 61% das pessoas expostas ao vírus, que não receberam o tratamento profilático, pois depende da espécie agressora, da gravidade da exposição, do local da lesão, da carga viral, além da presença de roupa, da espessura do tecido, da lavagem dos ferimentos com água e sabão etc.

Períodos e manifestações clínicas em casos de raiva humana

  

Encontram-se abaixo as principais manifestações clínicas em pacientes com raiva, ressaltando que nem todas as manifestações clínicas estão presentes em cada caso.

  • Fase Prodrômica - Duração 2 a 10 dias - Sintomas inespecíficos:
    Optou-se, para fins didáticos, em classificar, em grupos, tais sinais e sintomas.
    Gerais – Febre moderada, cefaléia (dor de cabeça difusa), tontura, sensação de mal estar geral, com dores vagas e/ou generalizadas pelo corpo. Alguns casos apresentam linfoadenopatia por vezes dolorosas à palpação.
    Alterações locais de sensibilidade - Prurido e/ou parestesia assimétrica (coceira com formigamento ou sensação de arrepio e queimação local), que em geral se inicia ao redor do local da agressão. Essa parestesia evolui para paresia e posteriormente para paralisia flácida.
    Relacionados com a orofaringe, garganta e deglutição – Dor na orofaringe ou dor de garganta, disfagia e/ou odinofagia (dificuldade ou dor ao deglutir), sialorréia, tosse seca, rouquidão e pigarro. Pela dor e dificuldade de deglutir o paciente torna-se ansioso e com sede, iniciando-se o quadro de desidratação, no entanto recusa-se a ingerir líquidos, não consegue engolir sua própria saliva, que fica “sobrando” na boca, “babando” bastante e, assim, desidratando-se ainda mais.
    Gastroentéricos - Anorexia, náuseas, vômitos, dor abdominal (vaga e difusa), constipação intestinal, diarréia e/ou disenteria ou fezes sanguinolentas, hemorragia digestiva.
    Alterações relacionadas ao SNC- Os períodos de desorientação podem se iniciar nessa fase, acompanhadas de uma diminuição auditiva ou surdez, diplopia (visão dupla), visão turva e estrabismo. É possível surgir retenção e incontinência urinária, assim como priapismo acompanhado ou não de aumento da libido ou do apetite sexual..

Obs: Muitos desses sinais e sintomas podem perdurar durante a fase neurológica aguda da doença.

  • Fase Neurológica Aguda - Duração de 2 a 7 dias – Sinais neurológicos:
    Essa duração pode se apresentar mais dilatado pela assistência hospitalar (terapia intensiva, médicos, enfermagem, medicamentos etc.) à qual o paciente for submetido.
    Nesta fase as alterações provocadas pela proliferação do vírus da raiva nas estruturas do SNC se intensificam, causando ansiedade, nervosismo, insônia, apreensão, agitação, agressividade e depressão, alterações do comportamento, exacerbação das características próprias da personalidade. Muitas vezes as pessoas agressivas tornam-se mais irritadiças e as tímidas ficam mais deprimidas.
    Manifestação de “fobias”, como hidrofobia, aerofobia e fotofobia, pois os estímulos, após provocarem “convulsões”, fazem com que o paciente tenha aversão frente à visão de um copo com água ou ao ruído de torneira aberta ou de chuveiro, também à corrente de ar ao se abrir uma porta e à luz, mesmo não muito intensa.
    Pode ocorrer também hiperventilação, hipersensibilização, hipóxia, afasia, incoordenação e rigidez na nuca.
    O quadro vai se agravando com hiperacusia, hiperosmia (sons e odores parecem exacerbados), espasmos faríngeos, confusão, delírio, alucinações, evidente presença de hiperatividade e espasmos ou convulsões locais ou generalizadas, que são desencadeados por estímulos. Os espasmos são involuntários e podem atingir a musculatura respiratória.
    Da parestesia há uma evolução para paresia (dormência ou fraqueza ou cansaço em membro, pela perda incompleta do tonus muscular, iniciada no local da agressão) e depois para a paralisia (perda ou incapacidade da função muscular e da sensibilidade).
    A doença segue com intensa agitação psicomotora, crises convulsivas alternadas com torpor.
    As demais manifestações citadas na fase anterior podem permanecer e se intensificar como as relacionadas ao aparelho genito-urinário, com retenção ou incontinência urinária e priapismo, ejaculação espontânea, assim como bexiga neurogênica, facilitando infecções do trato urinário (bexiga e rins).
    Podem ocorrer alterações gastrointestinais com dores vagas no abdômen, distensão abdominal, úlceras esofágicas, hematêmese, enterorragia, íleo paralítico e pancreatite. Há relatos de casos de raiva em que o paciente foi submetido à laparotomia exploratória.
    A temperatura pode se elevar a mais de 40º C, acompanhada de sudorese, com quadro final dramático, com alternância de intensa agitação com momentos de aparente calmaria.
    Continuam a ocorrer muitos espasmos, miofasciculações, podendo apresentar mioedema à percussão (elevação do músculo, principalmente no abdômen, após piparote), o paciente babando muito, olhar vago e lacrimejante, aumentado cada vez mais a desidratação.
    Todos os sinais e sintomas vão se recrudescendo no desenrolar do curso normal da doença, por isso, o paciente deve ser sedado, mantido hidratado, longe de ruídos, sons e luminosidade, preferencialmente com cuidados de terapia intensiva.
    Caso necessite de remoção, deve ser realizada com todos os cuidados e com o paciente devidamente sedado.
  • Coma – Duração – pode ser bastante dilatada, com coma induzido.
    O torpor vai aumentando, o paciente entra em coma, podendo ocorrer hipoventilação, apnéia, pneumotórax, infecções secundárias, hipotensão arterial, arritmia cardíaca, sobrevindo insuficiência respiratória.
  • Óbito
    Por fim parada cardíaca e morte cerebral.
    No curso normal da doença ocorre em cerca de 5 a 7 dias, do início do quadro clínico. Em virtude do manejo do paciente com medicamentos e terapia intensiva, foi possível se prolongar a sobrevida até 133 dias.

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