Humanização

A A A Tamanho do texto

Visita Aberta e Direito a Acompanhante - Hospital Estadual de Ribeirão Preto

 

 

VISITA ABERTA E DIREITO AO ACOMPANHANTE

 

Hospital Estadual de Ribeirão Preto

DRS XIII - Ribeirão Preto

 

 

Objetivo da experiência

Manter a inserção social do usuário durante sua internação, possibilitando o contato com sua rede externa ¿ afetiva ou social, minimizando sentimentos negativos que o tempo de internação possa motivar e possibilitar que membros de sua rede recebam orientações adequadas aos cuidados no pós-alta.

 

Público alvo

Usuários e Acompanhantes das Enfermarias de Internação em Clínica Médica.

 

 

Equipe envolvida

Recepcionista, Enfermeiro, Serviço Social e Psicologia.

 

 

Recursos utilizados

Recursos Humanos: Equipe multiprofissional de atendimento, incluindo copeiros, cozinheiros e auxiliar de nutrição.

Recursos Materiais: Computador, Sistema de Informação, Crachá, Gêneros Alimentícios, Poltrona para acompanhantes, televisão, ventilador, acesso a Wi Fi, Pesquisa de Satisfação, Urna do SAU para manifestação com papel e caneta.

Recurso Estrutural: área de convívio interna.

 

 

Interface com outras áreas e/ou serviços

Serviço de Nutrição e Dietética, Equipe Médica e Fisioterapia.

 

 

Breve histórico da experiência

Desde 2008, quando o hospital foi inaugurado, a visita aberta é oferecida na instituição. O hospital foi destinado a atender demandas de média complexidade procedentes da RRAS XIII - Ribeirão Preto, que contempla 26 municípios. Com o intuito de viabilizar um horário de visita ampliado, atender as demandas da região e proporcionar um acolhimento integral aos usuários internados, o horário de visita disponível das 13h às 21h possibilita a organização familiar para o contato com o ente doente e aproximá-lo de seu contexto externo, ou seja, sua rede social e ou afetiva. Em 2009, após decisão da Diretoria Geral com demais setores internos, o Direito ao Acompanhante passou a ser direito de todos os usuários internados, independente da idade e com   oferta de alimentação integral, desde o café da manhã até a ceia. Esse direito ao acompanhante auxilia no cuidado direto com o usuário, pois se podem evitar sentimentos negativos como ansiedade, inquietação e preocupação excessiva decorrentes do tempo de hospitalização, além de diminuir as incidências de altas a pedido ou por fuga.  O acompanhante tem papel fundamental à equipe, pois é fonte para obtenção de informações extras que possam auxiliar no diagnostico mais abrangente, e também será membro para receber as orientações de cuidados no pós alta hospitalar. Essa participação do acompanhante durante a permanência do paciente no hospital favorece o processo de desospitalização e a efetiva Alta Responsável nas unidades de saúde hospitalar.

 

 

Desenvolvimento da ação

Abordagem inicial pela equipe de recepcionistas, informando o direito ao acompanhante em tempo integral, independente do sexo e com idade maior de 18 anos; o horário de visita estendida, das 13h às 21h e o cadastramento do acompanhante e visitante no sistema interno.

Abordagem secundária do enfermeiro na admissão do paciente junto ao leito, apresentando o hospital, suas normas e funcionamento, e oferecendo o direito do paciente ficar com um acompanhante no quarto e também receber visitas dentro do período determinado. O horário de visita é diário, das 13h às 21h e podem entrar dois visitantes por vez, ou permanecer o acompanhante e entrar o visitante. Às visitas em leitos de isolamento, são feitas orientações com regras específicas para o contato com o paciente para se evitar riscos de infecção hospitalar. A visita de crianças aos internados também foi uma ação discutida por grupos de trabalhos da unidade, definindo que: as crianças menores de 01 ano (exceto para amamentação) são proibidas de entrarem no ambiente hospitalar para visita; as crianças acima desta idade devem entrar após avaliação do enfermeiro sobre os riscos de infecção hospitalar. Se autorizado, o paciente que deambula deverá ir até a área de convívio (área externa da enfermaria) e a permanência da criança não poderá exceder a 15 minutos. Na impossibilidade de deambulação pelo paciente e na ausência de riscos à criança, a mesma poderá ir até o quarto/leito, com o mesmo tempo de visita. Ofertamos também, dentro horário de visita, o período das 14h às 18h para informações médicas aos visitantes. Para pacientes em cuidado paliativos e ou cuidados de fim de vida, a visita poderá ser liberada para 24horas, conforme avaliação do enfermeiro do plantão, que organizará o fluxo de entrada e comunicará a equipe de recepcionistas. Em 2013, iniciamos parceria com a Rede de Apoio Espiritual de Ribeirão Preto, cujo objetivo dos mensageiros é oferecer apoio espiritual a pacientes, acompanhantes e visitantes, e proporcionar um momento de acolhimento e solidariedade espiritual, por meio de mensagens. A visita da Rede de Apoio acontece todas as quintas-feiras, das 16h às 18h, nas enfermarias. Em determinadas situações, como pacientes que residem em municípios distantes e a família depende do transporte público municipal para visitá-lo, a equipe do serviço social, da psicologia ou da recepção avaliam junto com o enfermeiro a possibilidade de a visita acontecer fora das normas institucionais.

 

 

Resultados alcançados

Alguns dados relevantes subtraídos da Pesquisa de Satisfação do Usuário (Fonte: Serviço de Atendimento ao Usuário ¿ SAU) nos mostram como a qualidade da assistência prestada é avaliada pelo Acompanhante/Visitante. Os dados são indicadores de satisfação do período  de 2008 a 2015, como seguem: 97% de satisfação referente às orientações fornecidas pela equipe de recepcionistas e enfermeiros aos usuários e/ou acompanhantes (profissionais que recebem os usuários no momento de sua internação) e 95% de satisfação referente ao horário de visita. Em 2009, quando a equipe multiprofissional realizou um levantamento do perfil do cuidador, a pesquisa apontou que: dos 64% dos pacientes internados que estavam com acompanhantes cuidadores, 47% eram filhos (as) e 24% eram esposas (os).  Nos anos de 2013 a 2015, com a mudança do modelo de pesquisa de satisfação do usuário, realizada pelo Núcleo Técnico de Humanização, conseguimos mensurar outros dados: 96% dos usuários receberam a informação da possibilidade de acompanhante durante a internação e 89% de satisfação com a comodidade dos acompanhantes nos quartos.  Ainda neste período, a escala de satisfação da internação geral foi de 98%. Em 2014 a equipe do CIH realizou uma pesquisa de satisfação para avaliar a satisfação dos internados e acompanhantes referente a visita da Rede de Apoio Espiritual: dos 69% avaliados, 100% referiram ter gostado da visita dos mensageiros. Outro dado que comprova a satisfação sobre a Visita Aberta e os benefícios dos acompanhantes, se destacam em elogios recebidos por meio do Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU):

 

¿A todos os profissionais do HERibeirão, muito obrigada pelo exemplo de humanização e excelente trabalho direcionado aos doentes que atendem bem como aos cuidadores. E os horários de visitação são ótimos, permitindo que familiares e amigos possam se organizar para estarem vendo seu doente. Trabalho em uma unidade de saúde do SUS e aprecio demais quando visualizo as coisas dando muito certo. Que Deus abençoe a todos, suas mãos, suas mentes, seus corações. Saúde!¿ (Gabriela - Jardinópolis)         

 

¿Tive o privilegio de vir para este hospital, fui bem recebida começando pela recepção, quando entrei no quarto me ofereceram um chá delicioso com pão e geleia. No dia 11 banho, bom café da manhã e almoço. Lanche da tarde tomei com meu filho, foi ótimo. Dia 12 um almoço bom. Gostei muito do menu. Obrigada por me proporcionar tudo isso, é um hospital vip.¿ (Antonia ¿ Luiz Antonio)

 

¿Quero parabenizar também pelos quartos bem equipados com televisão, ventilador, cadeira confortável para o acompanhante, banheiro excelente, e tudo bem limpo. A área para o paciente tomar sol também onde proporciona momentos únicos e fazemos até amizades com outros pacientes. nos sentimos em nossa casa! Outra observação também é as refeições, a alimentação nota 10, a comida é maravilhosa, enfim, não gostaria de esquecer nenhum detalhe, mas se esqueci me perdoa. No geral, minha nota é 1000. Obrigado por tudo.¿ (Maria de Lourdes ¿ Rib Preto)

 

Este retorno do usuário possibilitou ao hospital ser premiado por meio da Secretaria de Estado da Saúde em 2014 como finalista na categoria Internação, e em anos anteriores ¿ 2011 como o 4º melhor Hospital do Estado de São Paulo e em 2010 como o 1º Melhor Hospital do Estado de São Paulo.

O Serviço de Nutrição e Dietética também realizou um levantamento sobre o número de refeições aos acompanhantes, onde foram observados: nos anos de 2012/2013 ¿ uma média de 30-45% dos pacientes internados e com pico de até 56% dos pacientes estavam com acompanhantes no momento das refeições; e em 2014/2015 ¿ essa média subiu para 45-60% dos pacientes, chegando até 66% dos pacientes com acompanhantes. Os aspectos positivos deste levantamento nos mostram que houve aumento do número de acompanhantes ou visitantes, ao longo dos anos, o que pode significar um benefício aos cuidados ao paciente, principalmente no caso das dietas assistidas. Além disso, traz apoio e auxilia a adesão do paciente ao tratamento. O acompanhante também favorece o estreitamento de laços no momento das refeições, auxilia a equipe para o treinamento ao cuidado no pós-alta e facilita à compreensão das orientações técnicas de cuidado ao familiar ou cuidador direto.

 

 

Há fragilidades, vulnerabilidades ou problemas específicos da experiência?

Eventualmente ocorrem discussões em Grupo de Trabalho da Enfermaria quanto ao acompanhante do mesmo gênero o que atualmente não é uma obrigatoriedade no direito ao acompanhante. Inúmeras razões nos levam a não impor barreiras ao gênero do acompanhante, porém, a que mais se destaca é a vulnerabilidade social das famílias, pois muitas vezes o único ente é do mesmo gênero. A proposta é sempre avaliarmos o desconforto do paciente/acompanhante quanto a esta questão, que também poderá estar relacionada a orientação sexual do paciente/acompanhante. Temos também problemas relativos às inadequações de cuidados e posturas dos acompanhantes, as quais são observadas com o tempo de internação. Nestes casos, se for avaliada pela equipe que a permanência do acompanhante pode ser prejudicial ao paciente, é discutida a melhor estratégia de enfrentamento do problema, o qual nem sempre é possível ser resolvido, e neste contexto, a rede de saúde e/ou social do sujeito é acionada, ou outros órgãos.

Quanto à alimentação oferecida, para beneficiar e humanizar este atendimento, a equipe de nutrição teve que se reestruturar. Se considerarmos uma ocupação de 34 leitos em média (17 em cada enfermaria), equivale a 15 - 20 refeições a serem produzidas em cada período, ou seja, quase 1 enfermaria "a mais". Sendo 6 refeições oferecidas por dia, pode chegar de 90 a 120 refeições /dia para acompanhantes.  Avaliando os internados, por exemplo, temos 10 acompanhantes a mais (fora os de direito obrigatório >60 anos e < 18 anos). Sendo assim, podemos dizer que aumenta em torno de 40% o serviço do setor. Algumas considerações devem ser levadas em conta ao oferecimento do Direito ao Acompanhante em período integral com a oferta de alimentação:

 - Custos diretos: Aumento na compra de gêneros alimentícios e materiais;

- Redimensionamento de mão de obra: Reavaliação da mão de obra quanto ao número de funcionários disponíveis para suprir esta demanda, considerando tempo para preparo, porcionamento e distribuição destas dietas; e

- Restabelecimento de fluxos e normas: para que o acompanhante esteja no leito no momento da distribuição de dietas, para evitar pedidos avulsos e fora de horário, que implica em mais tempo e mão de obra.

As orientações aos acompanhantes devem ser frequentes com relação às normas da instituição, principalmente quanto à proibição de oferta de alimentos trazidos de fora da instituição, evitando problemas com a dietoterapia do paciente internado.

Uma fragilidade também encontrada ao atendimento de acompanhantes é a construção um banheiro de uso exclusivo. Atualmente o acompanhante é direcionado a usar outros banheiros do hospital, porém, muitas vezes utiliza o mesmo banheiro do paciente. Para a construção desse espaço físico é necessário aprovação de verba específica da Secretaria de Estado da Saúde.

 

 

Qual é o diferencial da experiência?  Por que é uma experiência inovadora?

Considerando o lançamento em 2003 da Política Nacional de Humanização,  o HERibeirão utiliza o dispositivo ¿Visita Aberta e Direito ao Acompanhante¿ desde 2008. Ao longo dos anos, foram implementadas ações que puderam favorecer a autonomia do paciente/família em seu plano terapêutico, destacando-se pelo acolhimento e garantia de direitos dos usuários, como: direito a alimentação integral e de qualidade, visita religiosa, informações médicas em horário específico, a visita de crianças, a participação da família em reuniões para o cuidado, a permanência em tempo maior para o aprendizado ao cuidado domiciliar, aproximação da família com o paciente e estes com a equipe de cuidado.

A Visita Aberta e Direito ao Acompanhante é uma ação difundida em alguns serviços de saúde. Na região de Ribeirão Preto, em hospitais públicos, recentemente esta ação vem sendo aprimorada com o trabalho de apoio do Núcleo Técnico de Humanização, por meio dos Articuladores de Humanização.

 

 

A experiência tem ou pode ter algum desdobramento?

Com a implantação do indicador de Alta Responsável, o cuidador é peça fundamental para a continuidade do cuidado. Assim, o dispositivo ¿Visita Aberta e Direito ao Acompanhante¿ favorece a correponsabilização durante e após a alta hospitalar e auxilia no processo de desospitalização, garantindo uma alta responsável com qualidade.

 

 

Contato

madesouza@heribeirao.usp.br

Comunicar Erro




Enviar por E-mail






Colabore


Obrigado