Humanização

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Mãe Vicentina: acesso e cuidado humanizado do pré-natal ao puerpério - Município de São Vicente (UBS Saquaré e Maternidade do Hospital São José)

 

 

MÃE VICENTINA: ACESSO E CUIDADO HUMANIZADO DO PRÉ-NATAL AO PUERPÉRIO

 

Secretaria Municipal de Saúde (Atenção Básica e Maternidade Municipal), DRS (Articuladora de Humanização, Saúde da Mulher e Atenção Básica)

DRS IV - Baixada Santista

 

 

Objetivo da experiência

Fortalecer o vínculo da gestante com a rede de cuidados em saúde, envolvendo o pré-natal realizado especificamente na UBS Saquaré, a assistência ao parto na Maternidade Municipal e o retorno para continuidade do cuidado na UBS.

 

Público alvo

- Gestores (Município de São Vicente e Articuladores do DRS IV)

- Trabalhadores (UBS Saquaré e Maternidade Municipal)

- Usuários (gestantes e familiares da UBS Saquaré)

 

Equipe envolvida

- DRS IV: Articuladora de Humanização, Articuladoras de Atenção Básica, Articuladora da Saúde da Mulher, Diretora de Humanização.

- Município de São Vicente: Coordenadora da Atenção Básica, Coordenadora da Mulher, Coordenadora da Saúde da Criança, equipe da Maternidade Municipal, equipe da UBS Saquaré.

 

Recursos utilizados

Transporte da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para levar gestantes na visita da maternidade.

 

Interface com outras áreas e/ou serviços

- DRS IV: direção do DRS, planejamento.

- SMS de São Vicente: secretária de saúde, transporte.

 

Breve histórico da experiência

A ação foi desencadeada a partir da Formação em Planejamento em Saúde realizada pela equipe da Unicamp para os Articuladores de Humanização da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, promovida pelo Núcleo Técnico de Humanização.

Cada Articulador de Humanização desenvolveu um projeto para apoio institucional em sua região de saúde. Deste modo, a Articuladora de Humanização do DRS IV, desde o início do processo envolveu outros atores do DRS na elaboração, apoio e acompanhamento do projeto, principalmente as Articuladoras da Atenção Básica e Saúde da Mulher.

A equipe do DRS discutiu a proposta e indicou o município de São Vicente pela integração e relação de confiança entre os profissionais do município e do DRS. A construção da proposta considerou a importante necessidade da região de enfrentamento das elevadas taxas de mortalidade materno infantil, sendo que em São Vicente a média tem sido o coeficiente de 17 por 1.000 nascidos vivos, uma das maiores da Baixada Santista.

A proposta foi então discutida em reunião com equipe do Município de São Vicente que indicou a UBS Saquaré para o projeto, considerando o bom relacionamento e envolvimento da equipe, em especial, pela enfermeira gerente da unidade.

A região da Baixada Santista é composta por 09 municípios. A população do município de São Vicente é de aproximadamente 350.000 habitantes. A referência para partos é a Maternidade Municipal de Vicente com média de 200 partos/mês, sendo que um dos problemas identificados foi a fragilidade na vinculação das gestantes com a maternidade, ocasionando a peregrinação delas no momento do parto. A UBS Saquaré localiza-se em área de ocupação irregular, sendo uma região com baixa infra estrutura e saneamento básico. Na UBS há 02 equipes de Estratégia Saúde da Família com atendimento a 2.234 famílias, além de outras famílias não cadastradas.

 

Desenvolvimento da ação

Após as primeiras reuniões de início da construção da proposta envolvendo DRS, SMS, UBS e Maternidade, a ação foi ocorrendo a partir de uma multiplicidade de encontros entre os diversos envolvidos, totalizando aproximadamente 27 encontros no período de implantação e avaliação.

 

De modo geral, as atividades do projeto envolveram:

- Reuniões na UBS Saquaré;

- Reuniões com equipe da Maternidade Municipal;

- Encontros com as gestantes na UBS Saquaré;

- Encontros com as gestantes na Maternidade Municipal;

- Reuniões Maternidade, UBS, SMS e DRS IV para acompanhamento do percurso das gestantes;

- Reuniões sobre os indicadores propostos no projeto com Hospital, UBS e SMS;

- Apresentação do projeto com avaliação de resultados na Câmara Técnica e CIR;

- Encontro com as famílias e todos atores do projeto na UBS Saquaré;

- Avaliação do projeto com os atores envolvidos;

- Discussão de proposta de continuidade do trabalho.

 

Os indicadores do projeto foram:

- Número de gestantes da UBS Saquaré que aceitaram o convite para participarem do projeto;

- Número de gestantes da UBS que participaram dos grupos de conversa na unidade;

- Número de gestantes da UBS que realizaram os exames do pré natal;

- Proporção de gestantes com 6 ou mais consultas de pré¿natal;

- Número de gestantes que realizaram o parto no Hospital da Mulher e Maternidade;

- Número de gestantes e bebês que tiveram o retorno realizado na UBS Saquaré.

 

Nos encontros com Articuladoras do DRS e equipe da SMS para discussão e avaliação do trabalho, os aspectos abordados foram: perfil da UBS; indicadores do projeto; vVisita da gestante na maternidade (roteiro da visita, rodas de conversa, transporte); pactuação e estratégias para o retorno da puérpera e bebê na UBS; monitoramento das gestantes.

Nos encontros com equipe da Maternidade Municipal foram discutidos aspectos como: fluxo das gestantes, roteiro de visitas, melhor forma de contato com a UBS para a continuidade do cuidado, monitoramento do cuidado às gestantes, visitas das gestantes com profissional da UBS.

Nos encontros com equipe da UBS foram discutidas questões como: fluxo da gestante, acompanhamento do pré-natal, busca ativa pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), análise dos prontuários, conflito na UBS por violência de usuário. Foi realizado também os encontros com as gestantes.

 

O projeto envolveu 18 gestantes da UBS Saquaré de 20 a 36 semanas de idade gestacional, sendo realizadas as seguintes ações:

- Convite para as gestantes da UBS a participarem do projeto;

- Grupo de gestantes na UBS e convite para visitarem a Maternidade Municipal;

- Realização da visita na Maternidade;

- Garantia da assistência ao parto às gestantes da UBS na Maternidade Municipal;

- Agendamento da consulta mãe e bebê na UBS;

- Continuidade da assistência na UBS, garantindo o cuidado integral materno-infantil.

 

O contato direto com a enfermeira da UBS propiciou um acompanhamento sobre o cuidado com as gestantes e suas histórias de vida. Na reunião com as famílias após o nascimento dos 18 bebês, observamos muitos relatos sobre a diferença no cuidado que foi produzida com o projeto.  Segue um dos vários relatos:

 

"a (nome da enfermeira) foi mãe, amiga, enfermeira. A minha primeira filha eu estava com minha mãe, então tudo era mãe. Hoje eu fui mesmo mãe sozinha, agradecer as meninas da vacina que tratam a gente muito bem. Agradecer as meninas que vão na porta da gente, pela atenção, por dar recado, levar atenção... Obrigado a todo mundo, principalmente pela (nome da enfermeira), eu não canso de falar, ela é amigona, sempre esteve presente ali, nunca fui tratada assim, esse tempo todo nunca vi tratar assim... Fui tratada muito bem na maternidade."

 

Na análise do que o projeto produziu, destacamos:

- A importância do cuidado compartilhado entre as pessoas que fazem os serviços de saúde funcionarem, a conexão entre essas pessoas é que podem produzir redes de produção de saúde;

- O trabalho em equipe que foi sustentado pelas pessoas dos serviços, contagiando a um trabalho coletivo;

- O cuidado foi ampliado, compondo protocolos do cuidado e acolhimento para as situações de vida das mulheres;

- Um cuidado que envolve o percurso da gestante, monitorando o pré-natal, o momento do parto e o retorno à UBS;

- A função apoio foi realizada a partir da inclusão de diversos atores para análise do processo, acompanhamento aos locais, ativando equipes para a discussão;

- Foram produzidos vínculos de confiança entre gestores, trabalhadores e usuários considerando a necessidade em saúde.

 

Relato da Articuladora de Humanização: "Quanta história de pessoas, quando eu entrei com o projeto eu estava começando. A equipe de São Vicente é diferenciada, eu ligava pra (nome da enfermeira), pra equipe da AB; destaco essa disponibilidade, elas não deixavam eu ir sozinha na unidade, me buscavam. É a unidade mais vulnerável e deu certo... Aprendi a ser articuladora, chamar aqui, chamar lá, juntar, vai ficar pra sempre pra mim... Todas as dificuldades e superações foram construtivas, só tenho a agradecer pela disponibilidade. Eu ligava e sempre podia."

 

Relato da Articuladora de Atenção Básica: "Eu tenho um bom relacionamento com os municípios, mas aqui em São Vicente a equipe é diferenciada. A gente sempre trabalha a questão da mortalidade, com o apoio, oficinas da AB com os profissionais, mas nunca vivenciei essa coisa do usuário e realmente aquelas reuniões lá me emocionaram muito. Esse contato e ver nelas a esperança, uma mulher grávida com medo, que não sabe onde vai dar a luz. Poder intervir nesse processo foi muito bom, fazer o caminho junto com elas."

 

Resultados alcançados

Dos indicadores avaliativos obtivemos das 18 gestantes que aceitaram o convite para participarem do projeto:

- 18 gestantes participaram dos grupos de conversa na unidade;

- 18 gestantes realizaram os exames do pré natal;

- 18 gestantes com 6 ou mais consultas de pré¿natal;

- 15 gestantes realizaram o parto na Maternidade Municipal;

- 18 gestantes e bebês tiveram o retorno realizado na UBS Saquaré.

 

Desta forma consideramos que o projeto atingiu o objetivo de fortalecer o vínculo da gestante com a rede de cuidados em saúde, envolvendo o pré-natal, a assistência ao parto e o retorno para continuidade do cuidado na UBS.

 

Há fragilidades, vulnerabilidades ou problemas específicos da experiência?

A maior fragilidade do projeto é a questão da insuficiência do número de leitos na Maternidade Municipal de São Vicente.

 

Qual é o diferencial da experiência?  Por que é uma experiência inovadora?

Produção de rede de cuidado a partir da conexão entre os trabalhadores e gestores, em que o trabalho do Articulador envolveu a experiência de construção coletiva e análise permanente do processo.

O cuidado em saúde foi ampliado para além dos procedimentos de pré-natal, parto e puerpério, envolvendo o acolhimento às histórias de vida das mulheres, fortalecendo vínculos e afirmação da vida.

 

A experiência tem ou pode ter algum desdobramento?

Sim, já estamos em elaboração de proposta para que o município amplie a experiência do projeto para outras duas unidades básicas, além de envolver toda equipe da Atenção Básica na discussão da produção do cuidado materno-infantil.

 

Contato

mararegian@uol.com.br

 

 

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