Humanização

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Assistência humanizada ao paciente em cuidados paliativos - Hospital Estadual de Ribeirão Preto

 

ASSISTÊNCIA HUMANIZADA AO PACIENTE EM CUIDADOS PALIATIVOS

 

Hospital Estadual de Ribeirão Preto

DRS XIII - Ribeirão Preto

 

 

Objetivo da experiência

Estruturar e consolidar o atendimento integral e humanizado aos usuários em cuidados paliativos e seus familiares.

Favorecer a alta hospitalar para os pacientes em cuidados paliativos com condições clínicas para tal.

 

 

Público alvo

Pacientes internados nas enfermarias da Clínica Médica do HE, que tenham a indicação da inclusão dos cuidados paliativos.

 

 

Equipe envolvida

Diretoria, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Médicos, Nutrição, Psicologia, Serviço Social.

 

 

Recursos utilizados

Recursos humanos (equipe multiprofissional de referência), sala para reuniões com familiares/discussões de caso, computadores, sistema de evolução eletrônica, telefone.

 

 

Interface com outras áreas e/ou serviços

- Outras áreas do HE: Equipes de Apoio (vigilância e limpeza), Manutenção, Recepção e TI.

 

- Outros serviços: Complexo HC-UE, Hospitais de retaguarda/leitos de longa permanência, FAEPA, SAD, redes de apoio dos municípios da DRS XIII, ONGs.

 

De maneira geral, no HERibeirão a interface com outros serviços é realizada pela equipe do Serviço Social. Entretanto, em casos e condições específicas, essa interface pode ser feita por qualquer profissional da equipe, desde que condizente com sua atuação profissional. As principais articulações realizadas são:

 

- Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD): cada equipe multiprofissional solicita a avaliação/seguimento domiciliar que será necessário, mediante contato telefônico com o SAD e envio de relatório. Para casos de solicitação de oxigênio domiciliar, a equipe médica preenche formulário específico de solicitação e equipes de Serviço social e Enfermagem orientam paciente/acompanhante sobre o processo de aquisição. Ainda, Serviço Social realiza o acompanhamento do processo de instalação e o paciente recebe alta apenas quando o dispositivo estiver instalado.

 

- Unidas básicas de saúde (UBS) - contato realizado via telefone, na maioria das vezes pela equipe do Serviço Social. Esse contato com a rede de abrangência objetiva solicitar visita domiciliar e segmento para orientação e suporte.

 

- ONGs ou outras redes de apoio: equipe multidisciplinar avalia a necessidade de materiais e insumos para cuidados após alta hospitalar (exemplo: cama hospitalar, cadeira de rodas e banho, dispositivos auxiliares de marcha, colchões específicos, medicações, etc) e então o Serviço Social realiza contato telefônico com a rede de apoio para agendar o atendimento. E, orienta paciente e acompanhante sobre o processo de aquisição dos mesmos, entrega impresso com relação dos documentos necessários para o atendimento e data do atendimento.

 

- Órgãos relacionados às pendências sociais (cartórios, bancos, agências funerárias, INSS, etc): quando necessário Serviço Social realiza contato com órgãos responsáveis por: procuração, curatela, seguro de vida, inventário, plano funeral, previdenciárias, benefícios, etc. Conforme o caso do paciente, Serviço Social orienta família a procurar o serviço ou solicita, via contato telefônico, atendimento no ambiente hospitalar.

 

- Hospitais de retaguarda, Instituições de Longa permanência: para os pacientes em condições de alta hospitalar e sem condições de cuidados em sua residência, o Serviço Social solicita o encaminhamento para estes leitos. Como o HERibeirão não faz parte do programa de Leitos de Longa Permanência, este encaminhamento acontece esporadicamente, via HC - Unidade de Emergência, da seguinte forma: (1) equipe identifica necessidade/indicação de internação do paciente em leito de retaguarda e família consente com a proposta, (2) Equipe multiprofissionais encaminham relatórios ao Serviço social, (3) Serviço Social do HE aciona equipe do Serviço Social do HC-UE e este por sua vez, segue o protocolo próprio da instituição.

 

- Programas e serviços específicos: para os pacientes em condições de alta hospitalar, mas que se apresentam em situação de fragilidade/vulnerabilidade social, conflitos familiares ou negligência, o Serviço Social realiza encaminhamentos para: CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro Especializado de Assistência Social), Coordenadoria do Idoso, SEMAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), Defensoria Pública, Justiça Federal, Conselho Tutelar, dentre outros. Na maioria dos casos, este encaminhamento é realizado via e-mail.

 

- Serviços de Referência e Contra-referência: Este referencialmente é realizado pela equipe médica, considerando a complexidade do caso clínico. Para casos complexos com necessidade de seguimento em serviço terciário, o paciente já recebe alta com retornos agendados em ambulatórios específicos no HC. Para os casos de menor complexidade, com necessidade de seguimento em serviço  primário ou secundário, o paciente recebe alta com a guia de contra-referência para unidades básicas ou especialidades de saúde dos municípios.

 

- Rede de Apoio Espiritual: Semanalmente, os pacientes recebem a visita dos Mensageiros da rede de Apoio Espiritual. Quando há solicitação de assistência religiosa específica, o enfermeiro do plantão entra em contato com o capelão e solicita a visita.

 

 

Breve histórico da experiência

O grupo de Cuidados Paliativos do HE iniciou suas atividades em outubro de 2015, como um grupo de estudos com frequência quinzenal. Nas reuniões eram estudados e discutidos tópicos relacionados a cuidados paliativos, a fim de garantir a resolutividade e integralidade da assistência aos pacientes com este perfil, internados no HERibeirão. Considerando que a integralidade depende do aperfeiçoamento do trabalho em equipe, houve no HE a estruturação da equipe multidisciplinar de referência em cuidados paliativos (dispositivo da PNH: Equipe Multiprofissional de Referência).

A estruturação desta equipe surgiu do aumento da demanda institucional para o atendimento de pacientes em cuidados paliativos de final vida.

A assistência aos pacientes em cuidados paliativos acarreta uma sobrecarga emocional e técnica, o que pode acarretar estresse a todos os colaboradores. Assim, em 2016, foram iniciados os projetos Cuidar I e II, com o objetivo de acolher e facilitar o preparo da equipe para manejar situações estressantes do trabalho (dispositivo da PNH: Valorização do trabalhador).

O grupo propôs a adequação do prontuário eletrônico para que seja possível o registro em aba específica dos cuidados paliativos. Essa proposta foi aprovada pela diretoria do HE e pela comissão de prontuários e encontra-se em estruturação na equipe da TI.

Houve também a adequação dos leitos para atendimento a este perfil de pacientes (dispositivo da PNH: Ambiência) e ajuste do horário de visitas para 24h diárias (dispositivo da PNH: Visita aberta e direito ao acompanhante).

A equipe de cuidados paliativos do HE encontra-se em reuniões quinzenais; além destas acontecem reuniões por videoconferência com outras instituições do Complexo HC-EU (dispositivo da PNH: Equipe Multiprofissional de Referência).

O HE já contava com a visita semanal dos mensageiros da rede de apoio espiritual. Mas, neste contexto dos cuidados paliativos, houve a instituição do atendimento pela Capelania. Por meio deste atendimento, a rede disponibilizou representantes de diversas religiões para atendimento in loco, caso haja necessidade específica.

Além de todas essas ações, a coordenação do Centro Integrado de Humanização (CIH) iniciou participação na integração de novos funcionários, a fim de apresentar os objetivos do CIH, bem como os cuidados paliativos no contexto do mesmo (dispositivo da PNH: Valorização do trabalhador).

 

 

Desenvolvimento da ação

De um total de 46 leitos do HE, 10 foram disponibilizados para pacientes em cuidados paliativos; estes leitos estão concentrados na enfermaria B (ação relacionada ao dispositivo da PNH: Ambiência).

A admissão do paciente é realizada pelo médico e enfermeiro do plantão e posteriormente, inicia-se a abordagem e acompanhamento do paciente/ família pela equipe multidisciplinar (ação relacionada ao dispositivo da Equipe multiprofissional de referência).

O caso do paciente é discutido nas reuniões multidisciplinares e caso haja necessidade é agendada uma reunião da equipe com a família (Ação relacionada ao instrumento de Alta Responsável e ao dispositivo Projeto terapêutico singular - PTS, em discussão e elaboração). Estas reuniões objetivam informar sobre as condições clínicas, conhecer as expectativas e esclarecer as dúvidas dos familiares. Nestas reuniões também é abordada a possibilidade ou não de alta hospitalar.

Neste contexto da alta, destaca-se que de acordo com protocolos da instituição, o paciente em cuidados paliativos é elegível para o protocolo de alta responsável e então seguirá o fluxograma do mesmo. Caso haja possibilidade de alta hospitalar, a equipe orienta a família mediante treinamentos específicos sobre os cuidados e acionamento das redes de apoio. Ainda, o paciente recebe alta com um relatório padronizado, contendo seu histórico patológico, bem como a abordagem paliativa. Este relatório é uma estratégia facilitadora para que, caso necessário uma nova internação, a unidade de pronto atendimento saiba qual o hospital de referência do paciente e o mesmo seja regulado para o serviço de origem (Ações relacionadas ao instrumento de Alta Responsável).

Ainda relacionado à Alta responsável, este relatório também é uma estratégia facilitadora para os casos de óbito que ocorrem em ambiente domiciliar. O HERibeirão em parceria com os outros serviços da rede (SAMU; Grupo de Cuidados Paliativos do HCFMRP-USP; SAD-Serviço de Atenção Domiciliar; CEMEL- Centro de Medicina Legal e SVOi- Serviço de Verificação de óbito do interior) elaborou um protocolo/fluxograma de Óbito domiciliar a fim de tornar este momento o menos burocrático e constrangedor possível (Fluxograma em anexo). Este protocolo encontra-se em fase de apreciação pelo Secretário Municipal de Saúde.

Tanto para os casos de óbito domiciliar, quanto para os casos de óbito na instituição, a instituição tem trabalhado para a estruturação de um serviço de atendimento ao luto. Para este ano de 2016, está previsto a realização de uma ação, chamada Café com lembranças, que receberá e acolherá familiares de pacientes que estiveram em cuidados paliativos, a fim de favorecer o processo de elaboração do luto.

Destaca-se que o desenvolvimento das ações relacionadas à assistência do paciente em cuidados paliativos está baseado nos dispositivos, eixos, estratégias e indicadores de humanização estabelecidos nas Políticas Nacional e Estadual de Humanização (PNH e PEH), conforme descrição detalhada a seguir.

 

I) Visita aberta com direito acompanhante

O dispositivo de Visita aberta e Direito ao Acompanhante é implantado no HERibeirão desde 2008. O horário de visita é das 13h às 21h e a presença de um acompanhante é direito de todos os pacientes, independente da idade e com oferta de alimentação integral, desde o café da manhã até a ceia. Para os pacientes em cuidados paliativos este dispositivo foi ajustado e as visitas são permitidas durante as 24 horas diárias. Essa adequação do horário de visitas para estes pacientes vai ao encontro da própria definição de Cuidados Paliativos, que "é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento" (OMS, 2002). Assim, a possibilidade dos familiares visitarem os pacientes em qualquer horário do dia facilita a comunicação com a equipe, favorece o vínculo entre paciente-família-equipe, favorece a autonomia do usuário e a Alta Responsável por meio da realização de treinamentos e orientações às famílias. Durante a internação, os acompanhantes e cuidadores têm a oportunidade de receberem orientações individuais e em grupo e têm oportunidade de participarem de atividades que favorecem a inclusão e participação da rede familiar e afetiva do paciente durante o período de internação, como por exemplo:

- GOTNE (Grupo de Orientação de Terapia Nutricional Enteral): orientações para cuidadores de  pacientes em uso de dieta enteral;

- GAPD (Grupo de Apoio ao Paciente Diabético): orientações pacientes diabéticos e seus familiares;

- Orientações específicas para pacientes em isolamento: o visitante recebe uma cartilha impressa com as orientações de cuidados durante a visita. Isso favorece o contato do paciente com sua rede afetiva mesmo em situações clínicas especiais;

- Visita multidisciplinar à beira leito: visita realizada pela equipe de Cuidados Paliativos. Esta visita à beira leito proporciona um momento de integração entre paciente-família-equipe e favorece o alinhamento das metas terapêuticas;

- Rede de apoio espiritual: O HERibeirão recebe semanalmente a visita dos mensageiros da Rede de Apoio Espiritual, que oferecem assistência a todos os pacientes/familiares e realizam o apoio à aqueles  que desejarem. Com a instituição dos Cuidados Paliativos, apenas a visita dos mensageiros não era suficiente; familiares e pacientes frequentemente solicitam uma assistência religiosa específica. Assim, foi instituída a assistência da Capelania.  A Rede de Apoio Espiritual disponibilizou ao HERibeirão uma lista de religiosos (de várias religiões) que prestarão apoio específico, quando solicitado. O CIH tem apoiado o estabelecimento desse fluxo, que  ocorre resumidamente da seguinte forma: familiar/paciente solicita apoio religioso específico - enfermeiro entra em contato com o capelão da religião solicita - enfermeiro registra no prontuário eletrônico a realização da visita;

- Sessão de Cinema: atividade quinzenal oferecida a pacientes e acompanhantes, na sala de aula da instituição. Esta atividade teve início em Agosto/2016 e foi aprovada pelos pacientes (vide relatos dos pacientes no item Resultados Alcançados).  

- Comemoração do aniversário: quando a data de aniversário de um paciente acontece durante o período de internação, é realizada a comemoração com bexigas, Parabéns e bolo*. Esta comemoração foi aprovada e elogiada por pacientes (vide item Resultados alcançados).

*quando a equipe julgar pertinente, considerando a dieta/condição clínica do paciente.

Considerando o paciente-família como unidade essencial no processo do cuidado, faz-se necessário conhecer a opinião e avaliação do mesmo. O HERibeirão tem implantada a Pesquisa de Satisfação do Usuário desde 2008. Nesta pesquisa, foram acrescentadas três questões específicas com o objetivo de avaliar a qualidade do atendimento em Cuidados Paliativos. O Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU) e o Grupo de Cuidados Paliativos objetivam que esta pesquisa seja aplicada em 100% dos pacientes internados para cuidados paliativos. O CIH apóia esta ação uma vez que a voz do usuário é uma importante estratégia de monitoramento dos serviços da instituição.

 

II) Alta Responsável

O HE desde o início de suas atividades trabalha com estratégias que propiciam a continuidade do cuidado do paciente após a alta hospitalar. Exemplo disso é o próprio dispositivo de Visita aberta e direito ao acompanhante, implantado na instituição desde o início das atividades.

Destaca-se que o paciente em cuidados paliativos é um dos perfis elegível para o protocolo da Alta Responsável. Este protocolo objetiva favorecer o processo de planejamento e transferência do cuidado da uma unidade de saúde hospitalar para outra(s), de modo a propiciar a continuidade do cuidado.

As estratégias realizadas para o planejamento da Alta responsável englobam: Discussão multidisciplinar de caso clínico, Reuniões da equipe multidisciplinar com familiares, Articulação com a rede, Atuação em equipe multidisciplinar.

 

III) Equipe multiprofissional de referência em Cuidados Paliativos

Com o intuito de garantir a integralidade e resolutividade da assistência, em 2015, foi constituída uma equipe multiprofissional referência em cuidados paliativos. Esta equipe é composta por 4 médicos, 3 enfermeiras,  1 fisioterapeuta, 1 assistente social, 1 fonoaudióloga, 1 nutricionista, 1 farmacêutica, 1 psicóloga. Todos estes profissionais foram capacitados pelo Curso Pallium (módulo Introdutório) e estão cursando o módulo avançado. Esta capacitação conta com o apoio financeiro da FEAPA e com o incentivo das equipes gestoras das unidades do complexo HC. Além dos profissionais do HE, outros profissionais das unidades HEAB, HC campus e HC UE estão sendo capacitados, com o intuito de proporcionar o atendimento integral e melhorar o alinhamento das metas terapeutas e integração entre os profissionais das diferentes instituições.

Esta equipe do HE tem como atividades: participação nas reuniões do grupo de Cuidados Paliativos do HE (frequência quinzenal), participação em reuniões por videoconferência com a equipe de Cuidados Paliativos do HC-Unidade de Emergência para a discussão de casos clínicos em comum às instituições (frequência quinzenal). Vale destacar que estas reuniões são abertas à todos os colaboradores da instituição, sendo da assistência direta ao paciente ou não.

Ainda, integrantes do grupo realizam visita multidisciplinar à beira leito, seguida de discussão de caso clínica, duas vezes na semana. Estas visitas objetivam a avaliação integral do paciente, bem como o alinhamento de metas terapêuticas em conjunto com equipe-família-paciente.

 

IV) Valorização do trabalhador

O PIH 2016/2017 do HERibeitão tem como um dos seus eixos a Valorização do trabalhador. Particularmente, o início deste projeto voltado ao paciente em cuidados paliativos apontou necessidade de mudanças em alguns aspectos do processo de trabalho. O principal aspecto é relacionada à necessidade de capacitação de toda a equipe e minimização do estresse causado pelo atendimento a este perfil de paciente.

Para minimizar este impacto foram iniciados na Instituição os Projetos Cuidar I e Cuidar II, que são rodas de conversa com profissionais de enfermagem e com profissionais das equipes de limpeza e copa/cozinha, respectivamente. Este espaço de discussão com os colaboradores foi criado como estratégia para valorizar o colaborador por meio do acolhimento e preparo da equipe para manejar situações estressantes do trabalho, seja na rotina do trabalho ou no relacionamento com a própria equipe. Estas rodas de conversa acontecem mensalmente, em uma sala de reunião, e são coordenadas por uma psicóloga e uma fisioterapeuta.

Também como estratégias de valorização do trabalhador, destacam-se as capacitações, treinamentos e integração realizados pela Educação Permanente, com o apoio do CIH. Em 2015, as atividades da Educação Permanente relacionadas aos Cuidados Paliativos foram: 

- Atualização sobre a utilização do Sistema Beira de Leito;

- Hipodermóclise;

- I Simpósio de Cuidados Paliativos do HERIBEIRÃO;

- Palestra: Cuidados Paliativos - Morte e Mito;

- Oficina de Capacitação - Grupo de Cuidados Paliativos;

- Nutrição em Cuidados Paliativos - Videoconferência UERJ/UFRJ.

Ainda sobre a capacitação, a Equipe de Cuidados Paliativos em parceria com a Educação Permanente está estruturando um curso de Cuidados Paliativos voltado aos colaboradores da instituição que não estão sendo capacitados pelo Curso Pallium. Esta é uma estratégia na qual a equipe referência compartilhará com as demais equipes os conhecimentos adquiridos no Curso Pallium. O início desta ação está previsto para a segunda quinzena do mês de Outubro / 2016.

 

V) Ambiência

Neste dispositivo de ambiências, as ações do CIH têm como objetivo favorecer a otimização de recursos e o atendimento humanizado, acolhedor e resolutivo. No contexto deste presente relato de experiência, objetiva-se a adequação do ambiente hospitalar para as necessidades dos pacientes em cuidados paliativos.

Para atingir tal objetivo, são utilizadas como estratégias: aplicação do Formulário de Ambiência; participação dos membros do CIH e do Grupo de Cuidados paliativos nas reuniões mensais dos grupos de trabalho.

Uma mudança na ambiência foi a concentração dos leitos de cuidados paliativos na enfermaria B, especificamente nos quartos de B7-01 à B11-02. A escolha deste local foi estrategicamente pensada pelas equipes, devido principalmente a três motivos: a) estes leitos têm vista para uma área aberta gramada; b) são os leitos onde há menos barulho externo* e c) leitos que não recebem o cheiro de comida proveniente da cozinha**.

*A estrutura do hospital é uma forma de U, sendo que em cada lado é uma enfermaria. Na parte central deste U ocorre a carga e descarga de produtos, isso faz com que os leitos com janela localizadas na parte externa deste U recebam menos barulho proveniente dos transportes.

**Também na parte central deste U localiza-se o sistema de exaustão da cozinha. Assim, os leitos com janela localizadas na parte externa deste U não recebam cheiro da preparação dos alimentos. Esta é uma característica extremamente importante no contexto dos cuidados paliativos, uma vez que a maioria destes pacientes apresenta sintomas de náuseas e vômitos.

Ainda relacionado à ambiência, o HERibeirão possui duas áreas de conviência, que podem e são utilizadas por pacientes e acompanhantes.

 

VI) Prontuário transdisciplinar

O HERibeirão já trabalha com o registro em prontuário eletrônico único, o que facilita a comunicação entre as equipes multidisciplinares e o cuidado integral do paciente. Para aprimorar este sistema de registros, O CIH tem apoiado o estabelecimento do registro padronizado em aba específica para pacientes em cuidados paliativos, a fim de favorecer o registro padronizado dos problemas e necessidades relevantes do paciente em cuidado paliativo, identificado por equipe multiprofissional e melhorar a integração e comunicação da equipe.  Esta aba de evolução específica para Cuidados Paliativos foi pensada principalmente para facilitar a elaboração e registro do Projeto Terapêutico Singular destes pacientes.

 

VII) Projeto Terapêutico Singular (PTS)

O HERibeirão ainda não possui um modelo de PTS, entretanto, esta abordagem singular é rotineiramente realizada. Na visita multidisciplinar à beira leito, o paciente/família é avaliado na sua integralidade e as metas terapêuticas são estabelecidas em conjunto com equipe-família-paciente. Essas metas/condutas são registradas no prontuário eletrônico do paciente, individualmente por cada profissional que participou da visita, de acordo com a sua área de especialidade.

O CIH entende que para este registro ser caracterizado como um PTS há necessidade de estabelecimento de um modelo, bem como a determinação de um profissional-referência para acompanhamento do PTS. Assim, a implementação do PTS para pacientes em cuidados paliativos foi estabelecida como um dos eixos do PIH 2016/2017 do HERibeirão.

 

VIII) Segurança do paciente

No HERibeirão existem várias ações que objetivam garantir a segurança do paciente. Alguns protocolos dessas ações estão em processo de revisão/atualização e outros em fase de elaboração.

Estão em fase de revisão/atualização: Segurança da prescrição, uso e administração de medicamentos (relacionado ao Sistema de checagem beira leito), Prevenção de lesão por pressão; Prevenção de quedas; Higienização das mãos, Transfusão Sanguínea, Prevenção de infecção de corrente sanguínea; Prevenção de Infecção do trato urinário. Estão em fase de elaboração: protocolo de Identificação do paciente; Comunicação Efetiva; Prevenção de tromboembolismo pulmonar/trombose venosa profunda.

Destaca-se que estes protocolos também são aplicáveis aos pacientes em cuidados paliativos, sendo que a seleção e aplicação dos mesmos são realizadas considerando a singularidade deste perfil de paciente.  

Dentre as estratégias do PIH 2016/2017, o CIH realiza e realizará o apoio à continuidade e aprimoramento do uso do sistema de checagem beira de leito, a fim de proporcionar segurança na administração de medicamentos.

Para finalizar, enfatiza-se que o desenvolvimento de todas essas ações é acompanhado e monitorado pelo CIH, que trabalha transversalmente com os grupos de trabalho, grupo de Cuidados Paliativos e SAU, com o apoio da equipe gestora.

 

 

Resultados alcançados

A implantação das ações descritas no item "Desenvolvimento da ação" são consideradas resultados positivos no processo de estruturação do Serviço de Cuidados Paliativos: concentração dos leitos de cuidados paliativos na enfermaria B; estruturação e capacitação da equipe de referência; projetos Cuidar I e II; visita multidisciplinar à beira leito; fortalecimento da assistência oferecida pela Rede de Apoio Espiritual; adequação do dispositivo de Visita aberta (permitida 24h diárias); flexibilização do direito ao acompanhante (podendo ser 2, conforme avaliação da equipe de enfermagem); atendimento diferenciado pela equipe da Nutrição, com a flexibilização da dieta e liberação da entrada de alimentos provenientes do  domicílio (quando solicitado pelo paciente).

 

- Indicadores        

No período de Fevereiro a Agosto de 2016, 104 pacientes estiveram internados no HE para Cuidados Paliativos. Para este período, alguns indicadores foram analisados considerando exclusivamente os pacientes em cuidados paliativos (Tabela 1 e Gráficos): Taxa de ocupação hospitalar (TOH), Média de permanência (MP); Índice de Renovação (IR); taxa de Mortalidade institucional (TM) e Taxa de reinternação não programada (TRNP).

 

Tabela 1: Indicadores para os pacientes em cuidados paliativos

Mês

TOH

MP

IR

TM

TRNP

fev/16

50,33

11,62

1,30

46,15

7,69

mar/16

50,67

12,67

1,20

66,67

8,33

abr/16

18,00

3,60

1,50

46,67

13,33

mai/16

34,00

6,00

1,70

58,82

17,65

jun/16

50,33

16,78

0,90

44,44

0,00

jul/16

56,33

12,07

1,40

57,14

7,14

ago/16

46,67

7,00

2,00

55,00

20,00

 
 

 

 

 

 

 

Além desses indicadores, o setor de Qualidade do HERibeirão monitora os Indicadores de eventos adversos, tais como: incidência de úlcera por pressão, incidência de erro de medicação, incidência de queda, incidência de perda de sonda nasoentérica, entre outros. Esses indicadores são analisados considerando conjuntos todos os pacientes internados (pacientes em cuidados paliativos e pacientes que não estão em cuidados paliativos). A partir do mês de setembro/2016 foi iniciada uma análise complementar destes indicadores, sendo incluído um monitoramento específico para os pacientes em cuidados paliativos. Estes resultados encontram-se em fase de finalização e poderão ser apresentados em outros relatos futuros.

 

- Relatos e elogios dos pacientes/familiares

A equipe de Cuidados paliativos do HE têm recebido feedbacks positivos dos pacientes e familiares. Há relato frequente que a família sente-se acolhida, amparada e bem assistida pela equipe na situação da doença/óbito:

 

"Vocês foram muito bons para ela. Obrigada." (Filha ligou para a equipe uma semana após o óbito da mãe, como forma de agradecimento aos 30 dias de internação da paciente).

 

"Este hospital é tudo de bom. Atendimento maravilhoso. É uma benção de Deus." (Filha de um paciente em cuidados registrou o elogiou no SAU dias antes da alta hospitalar do pai).

 

"Sentimos- nos muitos acolhidos no HE e é nítida a integração da equipe e o apoio da direção, ficamos muito contentes com a receptividade. Obrigada." (Elogio registrado no SAU, realizado pela rede de apoio espiritual de ribeirão preto, após participação na semana de humanização do Heribeirão)

 

"Sinto que meu fim está próximo, mas quero que vocês saibam que eu vou feliz por ter sido tão bem cuidada por todos vocês, com tanto carinho e dedicação." (Relato de uma paciente à equipe durante a Visita multidisciplinar - esta paciente esteve internada para Cuidados Paliativos e evoluiu a óbito na segunda internação no HERibeirão).

 

"Sabe doutora, nesse momento de dor, estou aqui refletindo sobre como Deus é bom em permitir que minha irmã seja tão bem amparada... Apesar da tristeza em saber que ela está indo, eu estou com o coração em paz em saber que ela foi cuidada. O carinho e a educação que vocês tem com as pessoas da família nunca vi em outro lugar, deixam a gente ficar aqui ao lado dela e aproveitar os dias que restam." (Relato da acompanhante de uma paciente que esteve internada para Cuidados Paliativos e evoluiu a óbito na segunda internação no HERibeirão).

 

Sobre a sessão de cinema: "fazia tempo que eu não ria... Agora estou com o rosto doendo de tanto rir"; "parabéns pela iniciativa"; "eu adorei, bom demais"; "muito bom, eu já estou internada aqui faz 11 dias, deu para distrair bastante"; "Parabéns, gostei demais. Muito bom pra gente que está aqui esperando pra fazer a cirurgia, tira o foco da doença."

 

Sobre a Comemoração do aniversário: "Sei que farei parte da história do HE como a primeira paciente a completar 100 anos internada, e vocês também já fazem parte da minha, pois prepararam uma festa linda, que pela primeira vez teve bexiga e o mais importante: teve muito, muito carinho de todos. Mil vezes obrigada! Deus os abençoe sempre. Um abraço muito carinhoso em cada uma de vocês, meu e de toda minha família."

 

Os resultados aqui apresentados apontam alterações positivas e favoráveis para a qualidade e excelência no atendimento aos pacientes em Cuidados Paliativos internados no HERibeirão.

 

 

Há fragilidades, vulnerabilidades ou problemas específicos da experiência?

Considerando que a integralidade do cuidado só pode ser obtida em rede, a principal vulnerabilidade deste projeto, que já se encontra em andamento, é a falta de estruturação da rede. A integralidade do cuidado durante a internação hospitalar esbarra em questões burocráticas como: pendências sociais/familiares e /ou financeiras do paciente que necessitem do atendimento de órgãos específicos como agências bancárias ou cartórios.  Caso o paciente esteja em condições clínicas de alta hospitalar, o HE contribui para a integralidade do cuidado realizando, por exemplo, uma adequada contra-referência. Entretanto, apenas a adequada contra-referência, pode não garantir a continuidade do cuidado após a alta hospitalar. Neste contexto, agrava-se a situação do paciente em cuidados paliativos, em condições de alta hospitalar, devido à dificuldade de acompanhamento domiciliar, destes pacientes, por equipes específicas.  Há também defasagem de serviços de saúde que possam acolher esses pacientes tais como: hospital dia, e ambulatórios de cuidados paliativos. Além disso, também existem dificuldades quando o óbito ocorre em ambiente domiciliar.

 

 

Qual é o diferencial da experiência?  Por que é uma experiência inovadora?

É uma experiência inovadora por: proporcionar um atendimento humanizado e digno em situações de terminalidade; favorecer a corresponsabilização da família e o preparo da mesma para a continuidade do cuidado e por favorecer que o paciente tenha como referência de cuidados o HERibeirão.

Ainda, há como ação diferencial a programação da desospitalização com a garantia da continuidade dos cuidados e assistência no momento do óbito em domicílio.

Este projeto parte da integralidade da assistência no ambiente hospitalar e vai ao encontro do fortalecimento da articulação com a rede, favorecendo a integralidade da mesma.

 

 

A experiência tem ou pode ter algum desdobramento?

Sim. Um dos desdobramentos, que já está acontecendo, é a capacitação de profissionais de várias unidades das unidades HC - campus e UE, HERP e HEAB.

Outro desdobramento, também já em andamento, é a desocupação de leitos de unidades terciárias e unidades de urgência e emergência, que encaminham seus pacientes para o HE.

Este projeto considera que o papel do hospital no sistema de saúde não é restrito a fazer referências e contra-referenciais.

Ainda, junto à consolidação do atendimento integral e humanizado aos pacientes em cuidados paliativos no HE, essa instituição idealiza o fortalecimento da rede de cuidados. Para tal, há a ambição/proposta de contribuir para a criação de uma estrutura composta por: hospital dia, ambulatórios, assistência domiciliar, assistência ao óbito domiciliar e reabilitação. 

Essa estruturação do atendimento em cuidados paliativos tem como objetivo a assistência humanizada, com a garantia da integralidade do cuidado; considerando que esta é uma tarefa da rede.

Como desdobramento futuro espera-se que esse projeto favoreça a desospitalização dos pacientes em cuidados paliativos, que tenham condições clínicas de alta hospitalar.

 

 

Contato

madesouza@heribeirao.usp.br

 

 

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