Saúde Única
M.V. MsC Adriana Maria Lopes Vieira e PqC Dra Helena Beatriz de Carvalho Ruthner Batista
O termo “One Health” ou Saúde Única tem sido empregado para uma abordagem colaborativa, multissetorial e transdisciplinar que reconhece a conexão e interdependência existentes entre a saúde dos seres humanos, animais (domésticos e selvagens), plantas e o meio ambiente. Neste contexto é importante prever, prevenir, detectar e responder a ameaças globais à saúde, de forma rápida e eficiente. A abordagem de Saúde Única foi fundamental para evitar prejuízos globais ainda maiores na recente pandemia de COVID-19, o que está também alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O planeta tem passado por alterações climáticas que podem estar relacionadas a utilização excessiva do solo, ao desmatamento, além de diversas práticas não sustentáveis como práticas agrícolas intensivas e o comércio ilegal de animais selvagens. Tais alterações climáticas associadas ao aumento do movimento de pessoas, animais e produtos de origem animal, pode trazer consequências a saúde oportunizando a evolução de novos patógenos. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), principal autoridade ambiental global, apontam que um milhão, das estimadas 8 milhões de espécies de plantas e animais do mundo, estão ameaçadas de extinção; 75% da superfície terrestre foi significativamente alterada por ações humanas, assim como 66% da área oceânica. Já a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alerta que 60% de todas as doenças infecciosas humanas são de origem zoonóticas (aquelas que podem ser transmitidas de animais para humanos ou de humanos para animais) e, em cerca de 75%, os patógenos “saltam” de espécies, ou seja, os patógenos que circulavam restritamente em um grupo animal passam a infectar outras espécies, incluindo humanos.
Os animais desempenham um papel importante em nossas vidas, seja para alimentação, meios de subsistência, deslocamento, esportes, educação ou companhia. As populações humanas estão crescendo e se expandindo para novas áreas geográficas e, consequentemente, ampliou-se o contato próximo entre seres humanos e animais, tanto domésticos como selvagens. Essa proximidade com os animais e seus ambientes oferece mais oportunidades para a transmissão de doenças zoonóticas existentes ou conhecidas (endêmicas) e novas (emergentes). A suscetibilidade dos animais a algumas enfermidades e riscos ambientais são semelhantes à dos seres humanos, desta forma, em algumas situações, o acometimento de animais pode servir como sinal de alerta precoce de uma possível doença em humanos.
Gerenciar os grandes riscos globais à saúde requer a total cooperação dos setores de saúde animal, humana, vegetal e ambiental. Os ecossistemas sustentam toda a vida na Terra, são um aliado indispensável à medida que enfrentamos esses desafios, portanto, protegê-los e gerir os seus recursos de forma sustentável é essencial.