sobre TRACOMA


TRACOMA
CID 10: A71

Conjuntiva tarsal normal (aumentado 2x).
As linhas pontuadas delimitam a área a
ser examinada.
Inflamação tracomatosa folicular (TF) Inflamação tracomatosa folicular e
intensa (TF+TI)
Figuras do Cartão de Gradação de Tracoma (Organização Mundial de Saúde)

O tracoma é uma afecção inflamatória crônica da conjuntiva e da córnea, uma ceratoconjuntivite crônica recidivante que, em decorrência de infecções repetidas, leva a cicatrizes na conjuntiva palpebral. Com o tempo, as cicatrizes podem se retrair e provocar entrópio e triquíase. Estas lesões provocam o atrito da pálpebra e dos cílios com a córnea. Em casos mais graves, há lesões corneanas importantes que podem resultar em cegueira.

Manifestações clínicas

Nos períodos iniciais da infecção, o tracoma aparece sob a forma de conjuntivite folicular com hipertrofia papilar e infiltração inflamatória que se estende por toda a conjuntiva, principalmente na conjuntiva tarsal superior, que na maioria das vezes regridem espontaneamente. Outros episódios de infecção ocorrem e dependendo da gravidade da inflamação, os folículos tornam-se necróticos, deixando uma pequena cicatriz conjuntival. Após sucessivas reinfecções e conjuntivites bacterianas associadas o quadro torna-se mais grave, podendo evoluir para cicatrizes mais extensas, que com o passar do tempo, podem causar irregularidades nas pálpebras provocando entrópio (pálpebra virada para dentro) e consequente inversão dos cílios levando à triquíase.

Os cílios invertidos tocando a córnea (triquíase) podem provocar ulcerações com consequente opacificação corneana, responsável pela diminuição da acuidade visual e cegueira.

A gravidade da doença depende, principalmente, da frequência dos episódios de reinfecção e da associação com conjuntivites bacterianas.

Os sintomas clássicos do tracoma inflamatório ativo são lacrimejamento, sensação de corpo estranho, prurido, fotofobia discreta e secreção purulenta em pequena quantidade (somente haverá secreção purulenta em grande quantidade se houver infecção bacteriana associada). No estado de São Paulo 25% dos indivíduos com tracoma inflamatório são assintomáticos.

Tratamento

O objetivo do tratamento é a cura da infecção. Em nível populacional, o objetivo é interromper a cadeia de transmissão da doença e diminuir a circulação do agente etiológico na comunidade, o que leva à redução da frequência das reinfecções e da gravidade dos casos.

Tratamento tópico

Tetraciclina a 1% (pomada oftálmica) duas vezes ao dia, durante seis semanas. Na sua falta ou devido à hipersensibilidade à mesma, utilizar colírio com sulfa, uma gota quatro vezes ao dia, durante seis semanas. Ambos os medicamentos devem ser manipulados, pois não estão disponíveis comercialmente no mercado.

Tratamento sistêmico (antibiótico via oral)

Tratamento cirúrgico

Todos os casos de entrópio palpebral e triquíase tracomatosa deverão ser encaminhados para avaliação e a cirurgia corretiva das pálpebras. Os casos de opacidade corneana (CO) devem ser encaminhados à referência e medida sua acuidade visual. A realização de ceratoplastia penetrante (transplante de córnea) nos casos de CO não oferece resultados satisfatórios.

Definição de caso

Caso suspeito: deve ser considerado caso suspeito de tracoma o indivíduo que apresentar história de “conjuntivite prolongada” ou referir sintomas oculares de longa duração (ardor, prurido, sensação de corpo estranho, fotofobia, lacrimejamento e secreção ocular) especialmente na faixa etária de 1 a 10 anos. Os comunicantes de casos confirmados de tracoma, com sintomas de conjuntivite, também devem ser considerados suspeitos.

Caso confirmado: considera-se caso confirmado de tracoma qualquer indivíduo que, através de exame ocular externo, apresentar um ou mais dos seguintes sinais:

- Inflamação tracomatosa folicular (TF);
- Inflamação tracomatosa intensa (TI);
- Cicatrização conjuntival tracomatosa (TS);
- Triquíase tracomatosa (TT);
- Opacificação corneana (CO).

A confirmação do caso é essencialmente clínica através da realização do exame ocular externo com o achado de lesões características da doença. Em comunidade onde já esteja caracterizada a sua existência, apenas o diagnóstico clínico é suficiente para confirmar o caso. Entretanto, se o caso suspeito ocorreu em uma comunidade onde até então nenhum caso havia sido registrado, será imprescindível a sua confirmação laboratorial.

Caso descartado: presença de conjuntivite aguda ou crônica, opacidade de córnea e triquíase de outras etiologias.

Notificação

O tracoma é de notificação compulsória em todo o Estado de São Paulo. Todo caso detectado de tracoma é notificado ao sistema de vigilância epidemiológica e investigado com preenchimento da Ficha de Investigação Epidemiológica (FIE). Os comunicantes domiciliares e institucionais são examinados com o objetivo de detectar casos novos da doença.