sobre acidentes por animais peçonhentos


ACIDENTES POR ARANHAS
CID 10 : X21 e W55

aranha

Descrição

Envenenamento causado pela inoculação de toxinas, através de aparelho inoculador (quelíceras) de aranhas, podendo determinar alterações locais e sistêmicas. Apesar do grande número de aranhas encontradas na natureza e de praticamente todas produzirem veneno (99,4%), poucas são consideradas de importância médica no Brasil.

 

Aranhas de interesse em saúde

No Estado de São Paulo, ocorrem três gêneros com espécie cujo veneno é ativo para os seres humanos e cujos acidentes requerem cuidados médicos, a saber: Phoneutria spp. (aranha armadeira); Latrodectus spp. (viúva amarela e flamenguinha); Loxosceles spp. (aranha marrom).

Mygalomorphae

As grandes aranhas peludas pertencentes a subfamília Theraphosinae, conhecidas popularmente como aranhas caranguejeiras

Aranhas – armadeiras: gênero Phoneutria spp.

Tamanho: total com envergadura de pernas até 18 cm.

Aspecto Geral: (Phoneutria nigriventer): um ventre escuro, quase negro, nas fêmeas, enquanto que os machos jovens apresentam na mesma região a coloração laranja e adultos de colorido marrom
Habitat: não fazem teias, caçam ativamente principalmente à noite.

Hábitos: são aranhas agressivas que ao se sentirem molestadas apóiam – se nas pernas traseiras, erguendo as anteriores e os palpos, abrindo os ferrões podendo picar. Daí o nome popular de aranhas armadeiras.

Epidemiologia e sazonalidade: na região sudeste do Brasil a atividade sexual ocorre nos meses de abril a junho, quando os machos saem à procura das fêmeas. É nesta época que o número de acidentes é maior. É o gênero com o maior número de acidentes registrado no Brasil.

Composição química do veneno e seus efeitos

Seu veneno tem ação neurotóxica. Atuando principalmente nos canais de Sódio e Potássio.

Seu quadro clínico caracteriza-se por manifestações locais e agudas como: dor, edema, eritema, sudorese, parestesia e fasciculação muscular (rara), além de comprometimento sistêmico, com progressão acentuada, evoluindo em hipotensão, bradicardia, arritmia, edema agudo de pulmão, caracterizando, assim, um caso grave.

É importante frisar que o acidente pode ser dividido em leve, moderado e grave.

ACIDENTES CAUSADOS POR ARANHAS DO GÊNERO Phoneutria (FONEUTRISMO)

INTRODUÇÃO

TRATAMENTO

Geral - Sintomático:

A principal abordagem terapêutica consiste na aplicação de procedimentos terapêuticos para alívio da dor. Para uma avaliação objetiva da intensidade da dor à admissão e da resposta terapêutica, é aconselhável empregar uma escala analógica visual de dor, que contém notas de 0 a 10. Em pacientes com dor intensa (geralmente nota = 7), deve ser considerada a infiltração anestésica local como 1ª medida terapêutica.

Específico:

A soroterapia anti-veneno (soro anti-aracnídico) está indicada em todos os casos graves, aliada a medidas de suporte vital. A soroterapia antiveneno também deve ser considerada nos casos classificados como moderados em crianças e idosos com idade maior que 70 anos. Todos os pacientes graves devem ser internados numa unidade de cuidados intensivos para monitoramento dos distúrbios hemodinâmicos e respiratórios.

O anti-veneno não está indicado para os casos classificados como leve, quando ocorrem apenas alterações no local da picada, mesmo que a dor seja de forte intensidade.

Loxosceles spp. – Aranha marrom

Características do gênero: carapaça baixa não excedendo em altura o abdômen; seis olhos de cor branca (2 – 2 – 2), dispostos em três pares, quelíceras soldadas na base, se movimentando em conjunto, apresentando em sua base um espinho característico.

Tamanho: total com envergadura de pernas pode atingir 3 cm.

Aspecto Geral: colorido geral marrom, algumas espécies apresentam um desenho claro na carapaça.

Ocorrência: Tem distribuição mundial e são amplamente distribuídas pela América do Sul. No Brasil, as espécies podem ser separadas em 4 grupos: grupo gaucho, grupo spadicea, grupo amazonica e grupo laeta. No estado de São Paulo, ocorrem as espécies: Loxosceles laeta, Loxosceles gaucho, Loxosceles similis, Loxosceles adelaida e Loxosceles hirsuta.

Habitat: Elaboram teias irregulares revestindo um substrato, ocorrendo em fendas de barrancos, junto e sob raízes de árvores, em cavernas, em bambuzais, podendo também ocorrer junto e dentro de residências humanas. Abrigando – se atrás de móveis e lugares escuros de preferencialmente, assim como em pilhas de lenha e de tijolos e telhas.

Hábitos: não são aranhas agressivas, porém picam ao serem comprimidas contra o corpo em roupas, toalhas, etc. possuem hábitos antrópicos. Possuem atividade noturna

Epidemiologia e sazonalidade: não são aranhas agressivas picam apenas quando comprimidas contra o corpo, em roupas, toalhas de banho e cama. No estado de São Paulo os acidentes ocorrem particularmente nas épocas de meses quentes do ano, de setembro a dezembro.

Composição química do veneno e seus efeitos

O acidente caracteriza-se por compreensão do aracnídeo contra o corpo do acidentado, quando mesmo se veste ou está dormindo. O resultado do acidente inicia-se em uma lesão necrótica na pele (variando conforme o dimorfismo sexual do aracnídeo, onde as fêmeas inoculam mais veneno que os machos) e outros efeitos sistêmicos que resultam no óbito do acidentado, através da falência renal.

O acidente pode ser dividido em Loxoscelismo Cutâneo Visceral (Cutâneo – Hemolítico) e Loxoscelismo Cutâneo. Sendo o primeiro tipo de acidente, classificado como o mais grave do Loxoscelismo, devido às características evolutivas do quadro clínico, apresentando lesão cutânea, que pode evoluir para hemólise intravascular.

Quadro Clínico

O loxoscelismo pode ser classificado em duas formas: cutânea e cutâneo-hemolítica.

Forma Cutânea. É a forma clínica mais frequente.
Vesículas e bolhas de conteúdo seroso, sero-hemorágico ou hemorrágico podem ocorrer. Na região mais central da lesão pode ser palpada uma área mais endurada, bastante dolorosa..

Forma cutâneo-hemolítica. Mais rara, apresenta além do comprometimento cutâneo, manifestações clínicas decorrentes da hemólise intravascular como: anemia aguda, icterícia cutâneo-mucosa, hemoglobinúria que, na grande maioria dos casos, surgem nas primeiras 72 horas do envenenamento.

Complicações

Nas formas cutâneas, pode haver perda tecidual profunda e extensa resultando em cicatriz. Infecção secundária é raramente observada, e quando ocorre é encontrada na fase de crosta necrótica, em geral a partir da segunda semana após a picada.

Insuficiência renal aguda (IRA) e coagulação intravascular disseminada (CIVD) podem ocorrer na forma cutâneo-hemolítica.

Na forma cutâneo-hemolítica observa-se anemia de intensidade variável, reticulocitose, leucocitose com neutrofilia, aumento de bilirrubina total com predomínio de bilirrubina indireta, DHL e diminuição da haptoglobina livre. Alterações da uréia, creatinina, potássio e sódio e de testes de coagulação e plaquetopenia podem ocorrer. Hemoglobinúria pode ser observada.

Diagnóstico diferencial

Dependendo da fase em que a lesão cutânea é observada, deve ser feito diagnóstico diferencial com picada de inseto, abscesso cutâneo, fasceíte necrotizante, vasculite, pioderma gangrenoso, leishmaniose cutânea.

Tratamento

Em geral, o paciente não procura o serviço médico nas primeiras horas após o acidente, pois muitas vezes a picada não é percebida, e muitas vezes quando o animal é observado, devido a pouca dor provocada pela picada e também pelas características das aranhas de aparência inofensiva, o acidente não é valorizado.

Quanto maior o tempo entre o acidente e o diagnóstico diminui a possibilidade de boa resposta ao antiveneno com relação à evolução da lesão necrótica cutânea.

Específico

Não há consenso na literatura quanto à utilização do antiveneno no loxoscelismo cutâneo. O tratamento específico pode ser realizado com o Soro Anti-aracnídico (SAA) ou com o Soro Anti- loxoscélico (SALox). Está indicado para a forma cutâneo-hemolítica e na fase inicial da forma cutânea.

Geral

Corticosteróide: Prednisona

Analgésico: especialmente na primeira semana, quando o quadro inflamatório e a dor são mais importantes
Anti-histamínico: está indicado em caso com exantema pruriginoso
Antibiótico: indicado apenas para os casos que evoluem com infecção secundária.

Debridamento cirúrgico e cirurgia reparadora: nos casos que evoluem com necrose, o debridamento deve ser realizado quando houver a delimitação da mesma, o que costuma ocorrer a partir da segunda semana. Em situações onde haja perda tecidual importante, avaliar a necessidade de cirurgia reparadora.

Hidratação: pacientes com a forma hemolítica devem ser mantidos com boa hidratação, Diurético: em casos em que o paciente evolui com hemólise e apresenta oligúria estando adequadamente hidratado,

Latrodectus spp. – Viúva Amarela e Flamenguinha

Características do gênero: olhos que estão dispostos em duas fileiras de quatro olhos transversais (4-4), os olhos laterais não são grudados. Possui um abdômen globoso, como característica principal apresenta na área ventral uma ampulheta de coloração vermelho – alaranjada. Não são aranhas agressivas. Possuem espinhos seriados no quarto tarso do quarto par de pernas.

Tamanho: total com envergadura de pernas até 1 cm para as fêmeas, enquanto que os machos atingem apenas alguns milímetros, na sua envergadura total.

Aspecto Geral: Latrodectus curacaviensis (flamenguinha ou viúva negra): apresentam coloração negra, intensa, com manchas em tons de vermelho distribuídas simetricamente e sua ampulheta apresenta-se em tons vermelhos vivo.

Latrodectus geometricus (viúva amarela): são marrons esverdeadas ou acinzentadas com manchas alaranjadas e apresentam no ventre um desenho em forma de ampulheta de cor alaranjada.

Ocorrência: Atualmente verificam-se 45 espécies em todo mundo. Na América do Sul estão confirmadas três espécies: Latrodectus curacaviensis, Latrodectus geometricus e Latrodectus mactans.

Latrodectus curacaviensis (flamenguinha ou viúva negra) – são encontradas nas regiões do interior do estado e região litorânea de São Paulo.

Latrodectus geometricus (viúva amarela) – esta espécie é cosmopolita.

Habitat: Elaboram teias irregulares em vegetação arbustiva, com alguns fios condutores alcançando o solo para auxiliar a coleta de sua presa. Podem ser encontrados também em janelas, atrás de quadros, quadros de força, batentes na área externa das janelas, etc.

Hábitos: não são aranhas agressivas, porém picam ao serem comprimidas contra o corpo em roupas, toalhas, etc. Muitas vezes ao se sentirem ameaçadas, caem e se finge de morta, comportamento este conhecido como tanatose.

Epidemiologia e sazonalidade: o número de acidentes no estado de São Paulo é muito baixo não permitindo um conhecimento sobre a sazonalidade e epidemiologia.

Composição química do veneno e seus efeitos

Possuem o veneno de características neurotóxicas com ação central e periférica, com ações agudas e sistêmicas. A picada não é percebida inicialmente, apenas alguns minutos após do acidente. Ocorrendo quando o aracnídeo em questão é comprimido contra o corpo do acidentado.

Alguns sintomas são característicos: inchaço dos vasos linfáticos, rigidez abdominal, sudorese, contorções faciais, náuseas, vômitos, sialorréia, obstipação e geniturinárias – retenção urinária, dor testicular e priapismo. Podem ocorrer complicações graves como: edema pulmonar agudo, infarto agudo do miocárdio e choque, entretanto esta sintomatologia ainda não foi verificada em pacientes acidentados.

O quadro mais grave de envenenamento não condiz com as duas espécies brasileiras.

Tratamento

O soro anti-latrodéctico encontra-se em fase experimental, não sendo disponível para uso de rotina.

Assim sendo, o tratamento medicamentoso inclui, além de analgésicos sistêmicos.

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