Instituto de Saúde

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Pandemias podem ser prevenidas

 

 

6 de agosto de 2020

 

Por José R. Carvalheiro, ex- Diretor do Instituto de Saúde

 

 

Neste último 5 de agosto, Dia Nacional da Saúde, vale comparar a complexidade da pandemia da COVID-19 com outras que o Instituto de Saúde teve que enfrentar nestes 51 anos de existência.

 

O Instituto, criado em 1969, em plena vigência do esforço de erradicação da varíola, teve em nosso patrono Walter Leser o mentor da Campanha de Erradicação da Varíola em São Paulo. Erradicamos essa doença no Estado de São Paulo antes do último caso no Brasil (Rio de Janeiro, abril de 1971) e no mundo (Somália, outubro de 1977). Cabe lembrar que nossa companheira de trabalho Ausônia Donato era a vacinadora favorita de Leser. Em cada vinda da OMS para verificar o andamento da campanha no estado, Leser perguntava sempre “onde está a Ausônia?” para agendar a visita.

 

Portanto, tínhamos um procedimento de ação: vacinação em massa, uma proteção específica da prevenção primária.

 

Mais tarde, na década de 70, enfrentamos a pandemia de meningite meningocócica atuando na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e no Ministério da Saúde. Não tínhamos vacinas no Brasil, participamos dos contatos com o Laboratório Pasteur/Merrieux, da França. Compramos e aplicamos 80 milhões de doses em toda a população brasileira, e construímos na Fiocruz o Laboratório BioManguinhos, que passou a produzi-la. Antes, sabíamos, da história natural da doença, que havia tratamento medicamentoso que curava se aplicado precocemente.

 

Portanto, tínhamos um procedimento de prevenção secundária: diagnóstico precoce (rigidez de nuca) e tratamento oportuno (com penicilina). Ao importarmos e, depois, produzirmos localmente a vacina, preferimos a prevenção primária com vacina específica.

 

Na década de 80 participamos da luta contra a pandemia de HIV/aids. Chegamos a desenvolver um estudo multicêntrico internacional conduzido pela OMS, chamado “Factibilidade de ensaios de vacina anti-HIV”. Não por acaso, demos à nossa parte o nome de “Projeto Bela Vista”, homenagem ao bairro da Bela Vista, onde está instalado o Instituto de Saúde, conhecido como Bexiga em homenagem à epidemia da varíola.

 

Neste caso, não se conseguiu ainda uma vacina mas, desde há muito, temos outras propostas de prevenção primária - como uso de preservativo, não compartilhamento de seringas, rigoroso cuidado com sangue e hemoderivados - e prevenção secundária - coquetel de antirretrovirais, que não cura mas retarda notavelmente o desfecho fatal.

 

E agora? Com que instrumentos contamos?

 

Conhecemos muito pouco da história natural da doença para orientar ações nos diversos níveis de prevenção. Não conhecemos bem os elementos epidemiológicos essenciais: incidência, prevalência e duração, para dizer o menos. À falta destes, baseamo-nos em ações “não farmacológicas” que cuidam da “doença do sistema de saúde”: evitar o seu colapso traduzido por excesso de enfermos graves em relação às UTIs disponíveis. Traduzem-se por um elenco de frases curiosas: afastamento social, achatamento de curvas e etiqueta respiratória: fique em casa, evite aglomerados e não lance perdigotos nas pessoas.

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