CVE - Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof. Alexandre Vranjac"

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Sobre Acidentes por Escorpiões

 


ACIDENTES POR ESCORPIÕES
CID 10: X22

 

 

Descrição

 

O envenenamento é causado pela inoculação de toxinas, através de aparelho inoculador (ferrão) de escorpiões, podendo determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas.

 

No Estado de São Paulo existem em três espécies de escorpiões de importância médica: o Tityus serrulatus, ou escorpião amarelo, o mais prevalente, que causa o maior número de acidentes e os de maior gravidade. Tityus bahiensis, ou escorpião marrom, também com potencialidade de causar acidentes graves, porém em menor freqüência. Tityus stigmurus, conhecido como escorpião amarelo do nordeste, assemelha-se ao T. serrulatus nos hábitos e na coloração, porém seu tronco é claro e amarelo, apresentando uma faixa escura longitudinal na parte superior, seguido de uma mancha triangular na região frontal da carapaça. Tem sido responsável por poucos acidentes.

 

A gravidade do envenenamento está relacionada à disfunção cardiorrespiratória, sendo o choque cardiogênico e o edema pulmonar as principais causas de óbito.  

 

Ações do Veneno

 

Estudos experimentais demonstraram que a inoculação do veneno bruto de T. serrulatus ou de algumas frações provoca dor local e efeitos complexos nos canais de sódio, (diminuindo sua inativação ou impedindo sua ativação), produzindo despolarização das terminações nervosas pós-ganglionares, causando liberação principalmente de acetilcolina, adrenalina e noradrenalina. Estes mediadores determinam o aparecimento de manifestações clínicas em praticamente todos os sistemas do organismo, que dependerão do predomínio dos efeitos simpáticos ou parassimpáticos.

 

Quadro Clínico

 

Manifestação Local: a dor local, uma constante no escorpionismo, é de intensidade variável, desde leve até muito intensa, às vezes insuportável, manifestando-se sob a forma de ardor, queimação ou agulhada podendo ser acompanhada de parestesia. Pode irradiar-se até a raiz do membro picado, exacerbando-se à palpação da região acometida. No local da picada pode-se observar hiperemia, às vezes discreto edema, sudorese, frialdade, fasciculação, piloereção e geralmente o ponto da inoculação não é visualizado. A dor ocorre imediatamente após a picada, o que faz com que o paciente procure rapidamente atendimento médico.

 

Manifestações sistêmicas:

São decorrentes dos efeitos colinérgicos e adrenérgicos desencadeados pelo veneno. De acordo com a intensidade dos sintomas apresentados pelos pacientes.

Em um intervalo de tempo não definido (que varia de minutos à uma hora e meia), podem ocorrer acometimento clínico sistêmico (principalmente em crianças até 10 anos), como sudorese profusa, agitação psicomotora, tremores, náuseas, vômitos, sialorreia, hiper ou hipotensão arterial, arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar e choque. Crianças é o grupo de maior suscetibilidade ao envenenamento sistêmico grave.

 

Classificação do Escorpionismo

 

Ausência de sinais e sintomas (Sem Clínica): mediante a ocorrência de “picada seca”, onde há a picada, mas não a inoculação do veneno.

 

Leve: Está praticamente restrito ao quadro local, que geralmente cursa com dor de moderada a forte intensidade, frequentemente irradiada, podendo ser acompanhada de parestesia, eritema, edema discreto e sudorese; as marcas do local da picada podem ser imperceptíveis. Além das manifestações locais, manifestações sistêmicas isoladas como discreta taquicardia e agitação podem ocorrer, e estão relacionadas à dor e ansiedade.

 

Moderado: além do quadro doloroso local e agitação, estão presentes algumas manifestações sistêmicas de pequena intensidade como episódios esporádicos de vômitos, sudorese discreta, taquicardia, taquipneia e hipertensão leves.

OBS: o primeiro vômito no grupo de risco já caracteriza a necessidade urgente do uso do soroantiveneno, pois depreende o efeito sistêmico do veneno escorpiônico. Nos demais pacientes o quadro ainda deve ser considerado leve, devendo-se tratar a dor e reavaliando-se.

 

Grave: as manifestações são intensas e evidentes: náuseas e vômitos profusos e frequentes (sintoma importante, sinal premonitório sensível que anuncia a gravidade do envenenamento), sialorreia, sudorese profusa, hipotermia, palidez cutânea, tremores, agitação alternada com prostração, hipo ou hipertensão arterial, taqui ou bradicardia, extra-sístoles, taquipnéia e, mais raramente, priapismo. Podem ocorrer alterações de eletro e ecocardiograma. O quadro pode evoluir para arritmias cardíacas graves, insuficiência cardíaca, edema pulmonar (EPA), manifestações de hipóxia acentuada como a presença de extremidades frias e pálidas que podem evoluir para choque e óbito.  No caso grave, o paciente pode não referir dor, pois esta fica mascarada devido às manifestações de gravidade, porém a dor reaparece após a melhora clínica do paciente.

 

A gravidade do envenenamento geralmente se manifesta dentro das duas primeiras horas do acidente, ou seja, o paciente grave já começa grave desde o início, apresentando precocemente alguns episódios de vômitos que podem evoluir rapidamente para vários episódios. O paciente pode procurar assistência médica imediatamente após o acidente, sem queixa alguma além da dor, e começar a apresentar manifestações sistêmicas a seguir, durante a consulta médica. Os casos graves podem evoluir com arritmias cardíacas, bloqueio AV total, taquicardia supraventricular, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão, choque e óbito.

 

A gravidade depende de fatores como a espécie e tamanho do escorpião, quantidade de veneno inoculado, idade ou tamanho do paciente, sendo as crianças até 10 anos o grupo mais vulnerável (grupo de risco). Os idosos, por já apresentarem hipertensão arterial ou mesmo alguma patologia cardíaca, muitas vezes recebem soro desnecessariamente, porém sempre devem ser avaliados cuidadosamente. Geralmente os acidentes de maior gravidade são atribuídos ao T. serrulatus. O diagnóstico precoce, o tempo decorrido entre o acidente, a aplicação do soro específico e a manutenção das funções vitais influem na evolução e prognóstico do paciente.

 

Prevenção de acidentes

  • Manter jardins e quintais limpos;
  • Evitar o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção nas proximidades das casas;
  • Evitar folhagens densas (plantas ornamentais, trepadeiras, arbusto, bananeiras e outras) junto a paredes e muros das casas;
  • Manter a grama aparada;
  • Limpar periodicamente os terrenos baldios vizinhos, pelo menos, numa faixa de um a dois metros junto às casas;
  • Sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, pois aranhas e escorpiões podem se esconder neles e picam ao serem comprimidos contra o corpo;
  • Não pôr as mãos em buracos, sob pedras e troncos podres. Usar calçados e luvas de raspas de couro para atividades em que seja preciso colocar a mão e pisar em buracos, entulhos e pedras;
  • O escorpião apresenta hábito noturno, e assim, para evitar sua entrada nas casas, deve-se vedar as soleiras das portas (com saquinhos de areia, panos ou veda porta) e janelas quando começar a escurecer. Se for possível manter a vedação por todo o dia é o mais adequado;
  • Usar telas em ralos do chão, pias ou tanques;
  • Vedar frestas e buracos em paredes, assoalhos e vãos entre o forro e as paredes, consertar rodapés despregados, colocar telas nas janelas;
  • Afastar as camas e berços das paredes;Evitar que roupas de cama e mosquiteiros encostem-se no chão;
  • Não pendurar roupas nas paredes;
  • Acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes que possam ser mantidos fechados, para evitar baratas, moscas ou outros insetos que servem de alimento para os escorpiões;
  • Preservar os inimigos naturais de escorpiões e aranhas: aves de hábitos noturnos (coruja, joão-bobo), lagartos, lagartixas e sapos. http://www.saude.sp.gov.br/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica-prof.-alexandre-vranjac/unidades-referencia/acidentes-por-animais-peconhentos-unidades-de-atendimento

 

Limpeza do ambiente

 

População: O escorpião é um animal originalmente de mata, mas se adaptou ao meio urbano devido à ocupação humana, que vem invadindo hábitats naturais dos escorpiões e facilitando a disponibilidade de abrigo em terrenos baldios com acúmulo de entulho e lixo, e de alimento em abundância, como baratas (seu principal alimento). Alterações climáticas, por sua vez, têm elevado a temperatura favorecendo uma maior atividade e reprodução desses animais e, em particular, do Tityus serrulatus, por sua característica partenogenética (não precisa do macho para reprodução, ou seja, a fêmea se reproduz sozinha).

 

A forma mais adequada de se evitar o aparecimento de escorpiões nas residências é evitar o acúmulo de detritos e entulhos no terreno, principalmente aqueles que possam atrair baratas e servir de abrigo para os escorpiões. Além disso, deve-se vedar frestas, vãos e ralos que permitam a entrada desses animais.

 

Prefeitura: manter os espaços públicos limpos quanto à coleta de lixo, limpeza de áreas baldias (sujeira e entulho), realizar de forma programada o manejo ambiental e o controle de escorpião e orientar a população quanto à importância da limpeza dos ambientes públicos e de seus domicílios.

 

Aspectos epidemiológicos

Os escorpiões pertencem à classe dos aracnídeos (assim como as aranhas), predominantes nas zonas tropicais (como o Brasil) e subtropicais do mundo, tendo maior incidência nos meses mais quentes e úmidos (entre outubro e março). Atualmente, no entanto, devido as constantes altas temperaturas, os acidentes escorpiônicos vêm ocorrendo em grande número ao longo de todo o ano (durante todos os meses) no Estado de SP.

 

No Estado de São Paulo há três espécies causadoras de acidente em seres humanos, sendo Tityus serrulatus, T. bahiensis e T. stigmurus.

 

A maioria dos casos tem evolução benigna (letalidade 0,03 % no estado de SP); os casos graves e óbitos têm sido associados a acidentes por T. serrulatus em crianças até 10 anos. No caso do escorpionismo, o tempo entre o acidente e o início de manifestações sistêmicas graves é bem mais curto (1,5 horas) do que para os acidentes ofídicos (3 horas). Desse modo, crianças picadas por T. serrulatus, ao apresentarem os primeiros sinais e sintomas de envenenamento sistêmico, devem receber o soro específico o mais rapidamente possível, bem como cuidados para manutenção das funções vitais.

 

Serviço de saúde para atendimento médico de acidente por escorpião

 

Para crianças até 10 anos: Deve-se procurar o mais rapidamente possível a Unidade de Referência para o atendimento de acidente com escorpião (ponto estratégico), que terá equipe médica preparada e o soro antiescorpiônico (o serviço de saúde deve ter conhecimento da sua unidade de referência, bem como, do plano de ação para atendimento às vítimas de escorpionismo da sua região de saúde).

 

Obs: O serviço de saúde deve orientar a população, diante de escorpionismo no grupo de risco, a procurar imediatamente o Ponto Estratégico de Referência. No entanto, cada unidade/profissional tem autonomia para avaliar cada situação, ponderando os agravantes e limitantes, podendo assim, também orientar que se procure pelo atendimento médico mais próximo, de preferência um pronto atendimento, pronto socorro ou hospital;

 

Para os demais pacientes: Deve-se procurar o mais rapidamente possível o serviço de saúde mais próximo, preferencialmente um pronto atendimento, pronto socorro ou hospital (essas unidades devem estar preparadas para transferir o paciente para o Ponto Estratégico ou para a UTI, caso seja necessário).

 

Unidades de Referência para atendimento/soroterapia antiescorpiônica ao acidentado

 

Veja aqui as unidades de referencia para atendimento/soroterapia antiescorpiônica ao acidentado por escorpião no Estado de São Paulo:

http://www.saude.sp.gov.br/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica-prof.-alexandre-vranjac/unidades-referencia/acidentes-por-animais-peconhentos-unidades-de-atendimento

 

Tratamento

 

Na maioria dos casos, onde há somente quadro local, o tratamento é sintomático e consiste no alívio da dor por infiltração de anestésico sem vasoconstritor, como lidocaína 2%, ou analgésico sistêmico, como dipirona 10mg/Kg.

 

O tratamento específico consiste na administração do Soro Antiescorpiônico (SAEsc) ou Soro Antiaracnídico (SAA) – Trivalente: Loxosceles, Phoneutria, Tityus aos pacientes clinicamente classificados como moderados ou graves (Quadro 1).

 

Em acidentes escorpiônicos deve-se utilizar o SAEsc. Em casos em que a diferenciação entre os acidentes com aranhas do gênero Phoneutria e escorpiões do gênero Tityus (devido à similaridade das manifestações clínicas e da não identificação do animal causador do acidente) ou na falta do SAEsc, deve-se utilizar o SAA.

 

Quadro 1. Conduta médica de acordo com as manifestações clínicas e classificação do caso para acidente escorpiônico no Estado de SP.

 

 

 

 

Para Quadro Clínico Moderado: Nas crianças acima de 10 anos, adolescentes e nos adultos com quadro clínico moderado de escorpionismo, tratar inicialmente a dor e avaliar o paciente. Se persistirem as manifestações sistêmicas, mesmo após analgesia/anestesia, iniciar soroterapia antiveneno. Nas crianças até 10 anos, com quadro clínico moderado a aplicação do antiveneno deve ser imediata.

Todo paciente submetido ao tratamento com antiveneno deve ficar em observação por, no mínimo, 24hs.

LEGENDA: SAEsc - Soro antiescorpiônico, IV – Intra venoso, CTI – Centro de Terapia Intensiva.

 


 

 

 

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